BRASIL – Após cerca de oito meses em Dubai, sendo submetido a trabalho em condições análogas à escravidão, um jovem brasileiro, de 20 anos, jogador de futebol, foi resgatado pela Comissão de Cidadania e Direitos Humanos (CCDH), da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (ALRS), em parceria com o Itamaraty.
A vítima Moisés Santana foi levado aos Emirados Árabes por um ‘olheiro’, termo usado no futebol para designar caça-talentos, com a promessa de jogar no time árabe Al Rams Club. Gaúcho de Porto Alegre, ele jogava no Água Santa, de Diadema (SP), quando recebeu o convite.
“Ele entrou em contato comigo, me falou que tinha uma oferta para ir para Dubai, que a chance era única, que eu teria casa, carro, uma vida literalmente de sheik. Que se eu desse certo, eu ia ajudar meus familiares e ajudar ele com um carro, como sinônimo de vitória”, contou o jogador à reportagem do Sul 21.
No entanto, foi dispensado após um mês no clube e, após ser abordado por um suposto empresário brasileiro, aceitou o convite para morar e trabalhar na sua casa, além de também prestar serviços na fábrica de cosméticos do empresário. Moisés tinha o objetivo de juntar dinheiro para seu retorno ao Brasil.
Mas a realidade foi de uma jornada exaustiva, das 7h às 23h, sem receber salário e sem poder entrar em contato com sua família, no Brasil. Moisés relatou que cobrava o suposto empresário que, por sua vez, protelava suas obrigações. O jovem conseguiu um celular emprestado e pode, então, falar com familiares que fizeram a denúncia no Brasil.
“A expectativa eu tinha todo dia, quando o menino tinha um tempinho que ele ia no banheiro ou alguma coisa assim, eu pegava o celular dele e falava com meu tio ‘e aí, e agora? Eles vão me buscar aqui? A polícia vai vir aqui?’, nessa expectativa enorme”, relatou Moisés.
O resgate: após procurar as autoridades, o caso começou a ter o desfecho
Em ofício, a CCDH comunicou ao gabinete da Secretária-Geral do Ministério das Relações Exteriores a situação do jovem, que procurava ajuda, pedindo a urgência do resgate. O comunicado aconteceu em 30 de março.
Joel Darcie, auditor fiscal do trabalho, que acompanha o caso, afirmou que Moisés conseguiu fugir no dia 25 de abril e foi acomodado num albergue em Abu Dhab e, a partir disso, começaram as negociações para a volta ao Brasil.
Por estar ilegal no país, Moisés teve de pagar uma multa no valor equivalente a R$ 10 mil. Os recursos foram conseguidos por meio de uma ação coletiva realizada pela deputada estadual Laura Sito (PT-RS).
O jogador desembarcou, finalmente, na última terça-feira (30), em Porto Alegre. Ainda que feliz por estar de volta em casa, o jogador afirmou que teme represálias de seus carrascos.
Acompanhamento
As instituições responsáveis pela investigação do caso continuarão apurando a situação e trabalharão para mudar as regras que impediram o jogador de voltar para o Brasil após ser resgatado.
De acordo com o auditor fiscal do trabalho, há casos semelhantes já registrados no Camboja e em Myanmar, de pessoas levadas para trabalhar com criptomoedas e e-commerce.
“Quando chegaram lá eram utilizados para aplicar golpes pela internet”, disse Darcie ao Sul 21.
Do Gui Muriaé.