Os Desafios de Espera Feliz – Parte I

Outras épocas Tendo se desmembrado da cidade de Carangola, em 1938, lá se vão mais de setenta anos desde que Espera Feliz tornou-se um Município autônomo. As origens da cidade são mais antigas, remontando à saga dos pioneiros caçadores que desbravaram a Zona da Mata na segunda metade do século XIX. O Imperador D. Pedro […]

Publicado em 09/06/2012 - 09:59    |    Última atualização: 09/06/2012 - 09:59
 

Outras épocas

Tendo se desmembrado da cidade de Carangola, em 1938, lá se vão mais de setenta anos desde que Espera Feliz tornou-se um Município autônomo. As origens da cidade são mais antigas, remontando à saga dos pioneiros caçadores que desbravaram a Zona da Mata na segunda metade do século XIX. O Imperador D. Pedro II teria ordenado a fixação de uma bandeira no ponto mais elevado do País, o Pico da Bandeira, na Serra do Caparaó, a pouco mais de trinta quilômetros do local onde hoje se encontra a sede do Município. O mesmo sítio, no encontro entre os rios São João e Caparaó, foi beneficiado com a construção da Estrada de Ferro Leopoldina, que colocou a região nos trilhos, impulsionou a colonização e facilitou as comunicações com a capital do país. De acordo com a lenda, o nome da cidade teria origem na abundância de animais (pacas, principalmente) no local em que os engenheiros imperiais acampavam, o que lhes proporcionava uma “feliz espera” antes da próspera caçada.

Após a chegada da ferrovia, o avanço da agricultura, o desenvolvimento pecuário e a descoberta de lavras de mica, as lideranças locais de Espera Feliz conquistaram autonomia política em relação a Carangola, que teve um grande surto de desenvolvimento entre as últimas décadas do século XIX e o começo do século XX. Além de simbólica, a emancipação política significou a conquista do direito dos cidadãos se autogovernarem – escolher um Prefeito, eleger uma Câmara Municipal, recolher tributos, dispor de um orçamento, contratar funcionários e fazer melhorias urbanas. Além disso, os cidadãos puderam acompanhar a realidade política local e fiscalizar o trabalho dos sucessivos governos.

Espera Feliz foi governada por diferentes lideranças dos partidos políticos que se organizaram no período 1945-1964 (PSD, UDN e PTB). A partir da década de 60, durante os governos militares, com o crescimento da cafeicultura, a vinda de empresas como a Klabin e a ação de sucessivas administrações, Espera Feliz assistiu ao crescimento da população e a um surto de modernização. Dois marcos definitivos dessa época foram a Guerrilha do Caparaó (1967), que levou a cidade a ser militarmente ocupada pelo Exército por alguns meses, e a desativação definitiva da ferrovia Leopoldina, base da prosperidade da região. Na administração municipal, os partidos ARENA (depois PDS e PFL) e MDB (depois PMDB) se revezaram na Prefeitura, tendo avançado na expansão da rede de estradas, na eletrificação rural, na reforma do espaço urbano, na construção de novas ruas e na inauguração de escolas, hospitais e bancos.

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A partir de 1980, com os ventos democráticos soprando sobre o Brasil, houve uma paralisação do crescimento do país, altamente endividado. Por outro lado, a cidade de Espera Feliz sofreu intervenções paisagísticas que tornaram a vida mais aprazível – a Praça da Bandeira, o canteiro central da Fioravante Padula, o Calçadão, a Área de Lazer e o Estádio Municipal. A Festa do Paraíso e a Exposição Agropecuária também se tornaram eventos regionais conhecidos. Completando o ciclo de modernização do século XX, não se pode deixar de mencionar a criação da Comarca (Fórum), o fortalecimento da rede da rede de comércio e serviços, a melhoria das comunicações, o avanço do turismo de aventura e a elevação do nível de instrução dos cidadãos como pontos extremamente positivos para o progresso dos esperafelicenses.

 

O presente

Nessa primeira década do século XXI, acompanhando o surto de crescimento econômico do país e do mundo, até a crise financeira mundial de 2008, o IBGE mostrou que o Produto Interno Bruto, isto é, a  soma de todas as riquezas produzidas em Espera Feliz praticamente dobrou em menos de dez anos. Como a população da cidade tem se mantido inalterada em pouco mais de 20 mil habitantes, isso significou um aumento na renda das famílias, o que se traduziu numa expansão do consumo e dos investimentos privados, principalmente no setor de imobiliário. Não é por outra razão que o boom de construção de casas e apartamentos tem sido a principal alavanca do crescimento econômico da cidade, gerando mais emprego, renda e consumo. Além disso, os investimentos da empresa de mineração Samarco na construção de dois novos minerodutos, cortando a área rural do Município, geraram mais empregos, trouxeram recursos e criaram mais oportunidades de negócios para os empreendedores locais.

A cidade tem sido bem aquinhoada com recursos dos governos estadual e federal. Os investimentos do Governo de Minas no asfaltamento da Estrada Parque Espera Feliz-Pico da Bandeira, somadas às melhorias que o Ministério do Meio Ambiente já havia feito no Parque Nacional do Caparaó, entre 2000 e 2002, tornaram a região de Espera Feliz uma das mais bem aparelhadas em infraestrutura para o turismo rural e de aventura no país. A Serra do Caparaó, o Parque Nacional, as reservas de mata, as cachoeiras, os rios e os caminhos de terra (além de fazendas, sítios, hotéis, pousadas, bares e restaurantes) oferecem aos moradores da região e aos turistas boas opções de lazer.

Ano após ano, os visitantes não se cansam de elogiar as belezas naturais da região e de ressaltar a hospitalidade singular que o povo de Espera Feliz lhes proporciona, o que é um diferencial importante. Ademais, muitas famílias têm trocado a agitação das grandes cidades por uma vida mais tranquila no interior, com destaque para profissionais que desejam aproveitar sua aposentadoria numa cidade com um clima agradável. Nesse sentido, por ser uma cidade relativamente nova (comparada com as mais antigas de Minas), e em franco crescimento econômico, é perceptível o aumento do orgulho dos esperafelicenses com a sua cidade.

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Cabe destacar ainda que a melhoria do nível educacional dos cidadãos de Espera Feliz já tem trazido um impacto significativo na vida da cidade. Graças aos avanços da internet e da telefonia celular, as novas gerações têm tido acesso informações que as anteriores jamais imaginavam possuir e dominar. Enquanto na época de nossos pais, poucos esperafelicenses tinham a oportunidade de completar seus estudos em centros mais desenvolvidos, hoje o acesso ao ensino superior avança a passos largos. Apesar dos inegáveis desafios inerentes à melhoria do currículo escolar e da formação dos estudantes, o ensino fundamental já está praticamente universalizado na cidade. Além disso, muitos esperafelicenses já se formaram e continuam entrando nas principais universidades do país. E, num raio de 25 a 100 quilômetros, é possível cursar faculdades em cidades como Carangola, Muriaé, Itaperuna e Manhuaçu, sem a necessidade de mudança de Espera Feliz. Nessa linha, a presença de mão de obra com formação superior na cidade tem sido um passo fundamental para o progresso do Município, impactando na produtividade econômica, na oferta de bens e serviços de maior qualidade, na criatividade e na cultura. Uma notícia igualmente positiva é o retorno de esperalicenses que desejam estruturar sua vida, investir e apostar no crescimento da cidade.

 

O futuro é agora

O ambiente político também tem sofrido mudanças. Espera Feliz, há décadas, vivencia com enorme intensidade os momentos políticos da construção de candidaturas, da realização de campanhas e da vitória de candidatos. A cada quatro anos, eram quatro ou cinco meses de intenso e apaixonado debate entre partidos, coalizões e lados opostos, que costumavam invariavelmente rachar a cidade. Após as eleições, no entanto, as paixões se dissipavam, os ânimos se acalmavam, os dissensos se resolviam e a vida seguia o seu curso normal. Com o refluxo da participação política, apenas os eleitos para cumprir os seus mandatos e poucos cidadãos mais interessados acompanhavam o dia a dia da administração. Esse quadro, felizmente, não corresponde mais à realidade que vivemos.

Considerando a evolução do quadro social, o interesse dos cidadãos pela realidade política e administrativa do município tem crescido bastante. O projeto “Parlamento Jovem”, desenvolvido pela Câmara Municipal, em parceria com a Assembleia Legislativa do Estado de Minas, tem levado dezenas de jovens a pensar, discutir e opinar sobre temas de interesse público. Graças à liberdade de expressão, aos jornais, à internet e às redes sociais, os cidadãos debatem, trocam informações e opinam diariamente sobre temas de interesse público. Se as ruas estão esburacadas, os hospitais não funcionam, o transporte público está deficiente, a segurança pública deixa a desejar e o lixo não é recolhido, a criatividade das pessoas transforma esses fatos de interesse coletivo imediatamente em textos, denúncias, charges, movimentos de protesto e abaixo-assinados, chamando a atenção da população e das autoridades públicas (prefeito, vereadores, polícia, promotoria e magistratura) para a necessidade de ações e providências.

Graças ao impacto da democratização da informação e das redes sociais (Facebook, Twitter e Orkut), além dos portais, blogs e sites – mais e mais pessoas, de todas as classes sociais, têm percebido que não basta eleger um prefeito ou um vereador para que os problemas de sua cidade sejam resolvidos. Penso que essa mudança de mentalidade ainda não se completou, mas caminha rapidamente para nos transportar para outra realidade, muito mais positiva, participativa e democrática.

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Por fim, há a questão da melhoria da administração municipal. Conforme a experiência do Estado de Minas Gerais tem mostrado, os cidadãos têm reconduzido ao poder os governos que focam em resultados, em fazer mais com menos e em melhorar, de fato, a qualidade dos serviços públicos. A profissionalização da gestão pública, a redução de desperdícios e a recuperação da capacidade de investimento da Prefeitura são desafios cruciais para que a cidade avance no campo político-administrativo. Os principais problemas municipais (saúde, educação, transportes, geração de empregos, meio ambiente) devem ser amplamente debatidos nessas eleições, sem falsas promessas ou cobranças ilusórias, buscando exemplos e experiências bem-sucedidas de boas gestões, que existem aos montes em Minas, no Brasil e no Mundo.

Temos que abrir nossas mentes, pensarmos além dos limites das nossas belas serras e deixar a criatividade fluir. Temos um imenso potencial de desenvolvimento e muito trabalho pela frente para fazer dessa cidade uma das melhores de Minas Gerais para se viver. Temos que pensar globalmente a agir localmente. Por todas essas razões listadas, além do orgulho de ter raízes solidamente fincadas nessa terra, acredito que Espera Feliz não é a cidade do futuro, pois o futuro é hoje e depende, mais do que nunca, daquilo que faremos dele.

 

Enrique Carlos Natalino, Bacharel em Direito e Mestre em Administração Pública, é Assessor da Governadoria do Estado de Minas Gerais.

 


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