Pricila Magro

Este é um artigo ou crônica pessoal de Pricila Magro.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.

Guia de sobrevivência no casamento durante o isolamento social

Não é brincadeira quando digo que várias matérias foram publicadas dando dicas para os casais superarem o isolamento social.

Publicado em 23/04/2020 - 10:23    |    Última atualização: 23/04/2020 - 10:23
 

Brasileiro faz piada de tudo e em tempo de pandemia não seria diferente. Se isso é uma fuga da realidade ou desespero é assunto para outra crônica. Não raro, ao acompanhar a chuva de conteúdos sobre o COVID-19, encontramos postagens nas redes sociais que tentam “alegrar” o brasileiro nesse cenário caótico.

Sim, vários homens fazem chacota com o fato de terem que ficar próximos às esposas. Aí eu me pergunto: por que você se casou com ela? Por que permanecer na mesma casa então? Se é tão dolorido, vaza fora! Deixe-a ser feliz sem a sua presença e seja feliz sem a cansativa figura dessa mulher ao seu lado.

Outro assunto totalmente bizarro que se manifesta nesses dias são as falas de vários casais questionando se o casamento vai sobreviver ou não à quarentena. Duas pessoas que escolheram, por livre e espontânea vontade, “ficar juntos até que a morte os separe” não suportam a ideia de passar algumas semanas juntos.

Casar não é para ficar junto? Não foi essa a promessa que você fez perante Deus ou um juiz? Agora que a correria dos dias se assenta e as pessoas não têm mais escolha e são obrigadas a enxergar o(a) parceiro(a) com uma lupa de aumento surge o medo de que as estruturas daquela união possam ruir.

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Não é brincadeira quando digo que várias matérias foram publicadas dando dicas para os casais superarem o isolamento social. Uma delas é a manchete do jornal El país, publicado em 18/03/2020:

“Sob o mesmo teto e sem sair: guia para superar a quarentena em casal”

conversamos com especialistas em psicologia para fazer com que o isolamento forçado não termine em separação. Primeira regra: respeito.

Aqui está o link da matéria caso você esteja precisando de tais conselhos:
https://brasil.elpais.com/smoda/2020-03-18/sob-o-mesmo-teto-e-sem-sair-guia-para-superar-a-quarentena-em-casal.html

Leitor, o respeito deveria ser a primeira regra em qualquer dia, em qualquer situação, né?!

Explicar para pessoas adultas que educação é o mínimo que se pode fazer para garantir uma coexistência saudável me parece tão absurdo, irreal. É como se disséssemos para nós mesmos que quando tudo voltar à normalidade (na ilusão de ela existe) temos o consentimento para sermos novamente cruéis uns com os outros, mas principalmente, com aqueles que dizemos amar.

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Por outro lado, uma faceta doentia da sociedade fica muito mais evidente quando nos deparamos com outros títulos de matérias jornalísticas. A violência doméstica grita nas nossas caras agora que não há mais onde se esconder.

“RJ: Casos de violência doméstica crescem 50% durante quarentena” – divulgado em 23/03/2020 pelo RJ2, da TV Globo.

“Chefe da ONU alerta para aumento da violência doméstica em meio à pandemia do coronavírus” – publicado pela https://nacoesunidas.org/ em 06/04/2020.

“Coronavírus: denúncias de violência doméstica aumentam e expõem impacto social da quarentena”– matéria publicada pela https://www.gazetadopovo.com.br/ em 28/03/2020.

O G1 já pontuou o número recorde de divórcios na China. Os primeiros a sofrer com o vírus também são os primeiros a evidenciar para o mundo que nem sempre o “felizes para sempre” vai sobreviver à crise.

Há quem se apegue à ideia de que se a união superar o caos ela sairá mais forte. Se vale a pena para o casal conviver mesmo na insatisfação da companhia um do outro, como ficou evidente para alguns, talvez não seja um ato de superação e amor, mas uma escolha baseada na crença de que amor tudo suporta e que ficar juntos (como nossos avós), mesmo ferindo a nós mesmos, mesmo violando nossa felicidade seria o ideal.

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Não sei como é o seu casamento, mas se você tem medo de que ele acabe enquanto está próximo de fato do seu/sua companheiro(a) ou se tem medo de passar mais tempo sob o mesmo teto com seu marido, não seria a hora de se perguntar o porquê desse casamento ainda existir?

Por Pricila Magro.

Sobre Pricila Magro

Pricila Magro é bacharela em Direito por escolha; professora por vocação. Desde os 15, não sabe gostar de outra banda senão Coldplay. Escreve por prazer, lê porque acredita que essa é a melhor forma de nos humanizar. A filha mais nova que não é nem meiga nem fofa. Sincera demais para os padrões "mimimi".


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