Este é um artigo ou crônica pessoal de Pricila Magro.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.
Brasileiro faz piada de tudo e em tempo de pandemia não seria diferente. Se isso é uma fuga da realidade ou desespero é assunto para outra crônica. Não raro, ao acompanhar a chuva de conteúdos sobre o COVID-19, encontramos postagens nas redes sociais que tentam “alegrar” o brasileiro nesse cenário caótico.
Sim, vários homens fazem chacota com o fato de terem que ficar próximos às esposas. Aí eu me pergunto: por que você se casou com ela? Por que permanecer na mesma casa então? Se é tão dolorido, vaza fora! Deixe-a ser feliz sem a sua presença e seja feliz sem a cansativa figura dessa mulher ao seu lado.
Outro assunto totalmente bizarro que se manifesta nesses dias são as falas de vários casais questionando se o casamento vai sobreviver ou não à quarentena. Duas pessoas que escolheram, por livre e espontânea vontade, “ficar juntos até que a morte os separe” não suportam a ideia de passar algumas semanas juntos.
Casar não é para ficar junto? Não foi essa a promessa que você fez perante Deus ou um juiz? Agora que a correria dos dias se assenta e as pessoas não têm mais escolha e são obrigadas a enxergar o(a) parceiro(a) com uma lupa de aumento surge o medo de que as estruturas daquela união possam ruir.
Não é brincadeira quando digo que várias matérias foram publicadas dando dicas para os casais superarem o isolamento social. Uma delas é a manchete do jornal El país, publicado em 18/03/2020:
“Sob o mesmo teto e sem sair: guia para superar a quarentena em casal”
conversamos com especialistas em psicologia para fazer com que o isolamento forçado não termine em separação. Primeira regra: respeito.
Aqui está o link da matéria caso você esteja precisando de tais conselhos:
https://brasil.elpais.com/smoda/2020-03-18/sob-o-mesmo-teto-e-sem-sair-guia-para-superar-a-quarentena-em-casal.html
Leitor, o respeito deveria ser a primeira regra em qualquer dia, em qualquer situação, né?!
Explicar para pessoas adultas que educação é o mínimo que se pode fazer para garantir uma coexistência saudável me parece tão absurdo, irreal. É como se disséssemos para nós mesmos que quando tudo voltar à normalidade (na ilusão de ela existe) temos o consentimento para sermos novamente cruéis uns com os outros, mas principalmente, com aqueles que dizemos amar.
Por outro lado, uma faceta doentia da sociedade fica muito mais evidente quando nos deparamos com outros títulos de matérias jornalísticas. A violência doméstica grita nas nossas caras agora que não há mais onde se esconder.
“RJ: Casos de violência doméstica crescem 50% durante quarentena” – divulgado em 23/03/2020 pelo RJ2, da TV Globo.
“Chefe da ONU alerta para aumento da violência doméstica em meio à pandemia do coronavírus” – publicado pela https://nacoesunidas.org/ em 06/04/2020.
“Coronavírus: denúncias de violência doméstica aumentam e expõem impacto social da quarentena”– matéria publicada pela https://www.gazetadopovo.com.br/ em 28/03/2020.
O G1 já pontuou o número recorde de divórcios na China. Os primeiros a sofrer com o vírus também são os primeiros a evidenciar para o mundo que nem sempre o “felizes para sempre” vai sobreviver à crise.
Há quem se apegue à ideia de que se a união superar o caos ela sairá mais forte. Se vale a pena para o casal conviver mesmo na insatisfação da companhia um do outro, como ficou evidente para alguns, talvez não seja um ato de superação e amor, mas uma escolha baseada na crença de que amor tudo suporta e que ficar juntos (como nossos avós), mesmo ferindo a nós mesmos, mesmo violando nossa felicidade seria o ideal.
Não sei como é o seu casamento, mas se você tem medo de que ele acabe enquanto está próximo de fato do seu/sua companheiro(a) ou se tem medo de passar mais tempo sob o mesmo teto com seu marido, não seria a hora de se perguntar o porquê desse casamento ainda existir?
Por Pricila Magro.
Pricila Magro é bacharela em Direito por escolha; professora por vocação. Desde os 15, não sabe gostar de outra banda senão Coldplay. Escreve por prazer, lê porque acredita que essa é a melhor forma de nos humanizar. A filha mais nova que não é nem meiga nem fofa. Sincera demais para os padrões "mimimi".