Paulo Faria

Este é um artigo ou crônica pessoal de Paulo Faria.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.

Seu Pedro de Reduto, um brasileiro

Quando me sentei à mesa para degustar a refeição, pedi um refrigerante e engatei: “O senhor é o Seu Pedro?”

Publicado em 25/04/2016 - 14:54    |    Última atualização: 26/04/2016 - 14:27
 

stock-vector-restaurant-hall-cartoon-background-vector-illustration-eps-118854463Eu sempre nutri muito apreço pelas “crônicas do dia-a-dia”. E quando me refiro às “crônicas do dia-a-dia”, estou falando sobre aquelas situações aparentemente corriqueiras do nosso cotidiano, que pelo simples fato de ser do cotidiano, faz com que muitos ignorem acontecimentos interessantes ou não relacionados às pessoas. Eu não. Eu sou daqueles que gostaria de escrever um romance sobre transeuntes de terminais rodoviários; tamanho é meu interesse pelas pessoas comuns que passam por aí, pela gente, todos os dias.

Quando necessitei fazer alguns exames de rotina, me desloquei alguns meses atrás até a cidade de Manhuaçu, Minas Gerais, para uma consulta numa clínica específica naquela cidade. Ao voltar de lá, resolvi parar em Reduto, cidade também pertencente a Minas Gerais, que fica no caminho de volta até minha casa. A princípio, o meu intuito era o de apenas fazer um lanche e prosseguir com a viagem de volta. O mês era agosto; o sol brilhava incessantemente às onze da manhã, embora estivesse frio naquele dia.

No contorno do trevo que dá entrada à cidade de Reduto, logo avistei um restaurante, bem ali mesmo na entrada, o que na placa de anúncio dizia “Bar, Restaurante e Lanchonete do Pedro”. Não me lembro se os dizeres da placa estavam necessariamente nessa ordem. Entrei.

Como mencionei antes, minha intenção era apenas fazer um lanchinho e ‘picar a mula’ até em casa para o almoço. Mas quando pisei no estabelecimento, um senhor que estava almoçando sentado à mesa onde são feitas as refeições dos clientes me pergunta: “Vamos almoçar?”. Questionei o senhor que apenas gostaria de comer um salgado, o qual o mesmo me respondeu dizendo que àquela hora não tinha. Logo percebi que aquele homem em questão era evidentemente o dono do restaurante.

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Sem esperar muito, o senhor emendou: “Se quiser almoçar, tá na hora”. Bom, o que me chamou a atenção foi o conjunto de informalidades advindos do possível dono daquele local. Primeiro, que o homem que ali se encontrava, e que supostamente seria o dono do restaurante, estava em uma mesa para clientes; segundo, ao convidar-me para o almoço, aquele homem mais parecia aquele seu amigo que ao chegar à sua casa diz: “Chega aê, tá na hora do rango!”. Terceiro: Quando me convenci que o melhor seria almoçar, me espantei com o preço das refeições: R$ 10,00 o ‘self service’, R$ 8,00 o ‘prato feito’ (PF).

Como minha fome não era gigantesca optei pelo “PF”. Pedi ao senhor para prepare-me a refeição ao que logo completou: “Pode pegar lá. Fica à vontade”. Ou seja, você mesmo poderia montar seu prato com o que você quisesse, e da forma que quisesse. E tinha “de um tudo”: macarronada, maionese, arroz, feijão tropeiro, feijão comum, salada, carne, molho, e todas essas cosias que se comem em restaurante.

Quando me sentei à mesa para degustar a refeição, pedi um refrigerante e engatei: “O senhor é o Seu Pedro?”. Sim, eu sou, disse aquele homem aparentando uns 50 anos, trajando camisa de botão, bermuda e sandálias. Elogiei a comida e perguntei se ele trabalhava ali com sua família ao que me respondeu afirmativamente.

Enquanto comia, fiquei observando ao redor, fazendo reflexões sobre aquele homem e sua família que se encontravam ali, no fim do mundo de um estado brasileiro, trabalhando honestamente, passando por todos os percalços pela qual um brasileiro honesto cotidianamente vive, vendendo excelentes refeições a 8, 10 paus (hoje em dia, nem pão com mortadela custa isso).

E enquanto eu ainda processava tudo aquilo, fisgando vorazmente uma coxa de frango, para um automóvel – modelo Celta, com dois rapazes dentro -, próximo a entrada do estabelecimento, justamente onde minha mesa se encontrava. Aparentemente pareciam ser viajantes, representantes ou vendedores de alguma empresa. O motorista, através de sinais me perguntou “quanto era”. Com os dedos respondi: “10”, e fiz sinal de “joinha”.

Ambos desceram do carro com fúria maior que o que este que vos escreve se lançava contra a indefesa coxinha de frango frita. Pareciam que realmente estavam com fome e precisavam de ”preço”.

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Depois de pagar e agradecer pela excelente refeição e hospitalidade; na estrada fiquei pensando sobre aquelas pessoas que gerenciavam aquele pequeno restaurante. E fiquei feliz ao constatar que na mesma Terra em que vivem o pai do Mensalão e a mãe do Petrolão, também vive a família do Seu Pedro.

Por Paulo Faria.

Sobre Paulo Faria

Paulo Faria é um amante do cinema de horror e rock ‘n’ roll. É professor por formação, humorista por conveniência e escritor por aspiração.


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