Este é um artigo ou crônica pessoal de Paulo Faria.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.
O Brasil é este país que tem a incrível capacidade de nunca nos decepcionar. Quando algo está ruim, sempre há espaço pra ficar pior. Vide o desastre econômico produzido pelo PT nos 13 anos, quatro meses e 11 dias que esteve no poder. Vide a delação dos “78 da Odebrecht” que nivelou ao nível do esgoto igualmente todos os cafajestes que nos (des) governam ou já nos (des) governaram.
Mas enquanto a canalhice está no plano Federal é fácil questionar, berrar, espernear; porém, quem mora em cidades do interior invariavelmente também é vítima frequente de algum tipo de gatunagem ou (des) política visando a benefício próprio de quem está no poder ou de sua trupe de privilegiados; e questionar é mais complicado, pois, em lugares tais como Caiana, Espera Feliz, Caparaó, etc., microcidades onde “todo mundo conhece todo mundo”, às vezes não nos fica tão claro as mutretas oficias.
Nossas cidades não são muito diferentes do que acontece no resto desse nosso Brasilzão; o que muda é a forma e a proporção. Um exemplo bizarro de má política, por exemplo, é a compra de votos. Esse modus operandi é atroz, pois macula a democracia desestabilizando o jogo eleitoral. Pior ainda, é a compra de votos à prazo: a promessa de emprego.
Muito comum aqui em nossa região em época eleitoral, a promessa de emprego, de um carguinho, de um encosto na prefeitura, se feito em demasia, cria uma situação perversa se concretizada: o inchamento da máquina pública que consequentemente compromete o bom funcionamento da administração. Esse inchamento da máquina administrativa com gastos absurdos na folha de pagamento com pessoal privilegia uma fração da sociedade enquanto ao resto da população é delegada a sobra. Enquanto a maior parte do povo padece dos itens mais básicos, cidadãos seletivos vivem como marajás boiando no remanso de algum cargo público criado sob medida, na maioria das vezes, apenas para quitar acordos de campanha.
A desculpa dos prefeitos que nos (des) governam é que o aumento de servidores é para “servir melhor a população”, mas a verdade, é que enquanto o dinheiro é escoado para manter a mamata de uma casta de apaniguados o Zé Povinho continua lá, à margem, esperando que caia alguma migalha do céu. Nesse joguinho, o “Zé” que não tem um sobrenome “famoso” na cidade é obrigado a dormir na sua insignificância. A eleição não foi para servir a ele.
Outro tipo de perversidade merece destaque: um político que promete um cargo em troca de votos explora de modo cruel a necessidade, a consciência ou talvez até a miséria de algum cidadão. O não cumprimento seria como destruir um sonho. Num país de 13 milhões de desempregados quem tem um emprego é rei.
Seguramente, se 40% dos servidores de micro porte como os da nossa região desaparecesse, é bem possível, caro leitor, que você nem notasse ao procurar uma repartição pública. É bem provável, inclusive, que o atendimento ao público até melhorasse em virtude da eliminação de parte da ineficiência e da burocracia administrativa.
Não se trata aqui de demonizar o servidor ou o serviço público; óbvio que não. Para todas as regras há lá suas exceções. O que devemos demonizar é essa “cultura do emprego pelo emprego” das nossas cidades e a apropriação disso por políticos mal intencionados que visam apenas a se locupletar no poder.
Infelizmente, a patifaria que nos cerca é um mal crônico, cria da incompetência e má-fé de quem nos (des) governa há anos. É só observar: nas últimas duas décadas, nossas cidades foram administradas pelas mesmas figuras de sempre, fazendo apenas a “dança das cadeiras”, e o resultado é que nos últimos tempos não houve qualquer tipo de política pública drástica, necessária e eficaz. A coisa por estas paragens anda mais ou menos como sempre no mínimo há umas cinco legislaturas. Muito cômodo; é mais fácil usar a prefeitura como cabide que fazer políticas públicas eficientes.
Por aqui já poderiam extinguir a profissão de prefeito. Bastariam arranjar um gerenciador de emprego público a cada quatro anos.
Por Paulo Faria.
Paulo Faria é um amante do cinema de horror e rock ‘n’ roll. É professor por formação, humorista por conveniência e escritor por aspiração.