Este é um artigo ou crônica pessoal de Paulo Faria.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.
A partir dos primeiros anos da década passada, a maneira de se comunicar, informar e estabelecer relações sociais foi bruscamente alterada pela consolidação da internet, e isso influiu diretamente no comportamento de uma geração que talvez nunca tenha visto um walkman ou um vinil.
É a geração “online”, que nasceu principalmente nos anos 90 e está vivendo sua infância e adolescência nos anos 2000. Ela é simplesmente o retrato de um rompimento entre o fim do analógico e o começo do digital; é a representação perfeita do que há de mais moderno através dos ipods, ipads, iphones, notebooks, etc. Para ela, tudo é rápido e preciso; o fluxo tecnológico não permite tempo para descanso, e o ‘ontem’ já é arcaico e distante.
No espaço de poucos anos o mundo se transformou, pois, com a internet foram encurtados os espaços geográficos e culturais, dando vazão a uma interação mais dinâmica, ampla. Começou pelo e-mail, sites, blogs e alcançou seu auge com o surgimento das “redes sociais” tais como Quepasa, Sonico, Netlog, Hi5, e a mais famosa no Brasil entre 2004 e 2010, o Orkut. Com isso, definitivamente, a forma de interação pessoal e de amizade mudou. Agora, basta procurar por qualquer pessoa no campo “pesquisar”, adicionar, e pronto: está estabelecido o laço de “amizade”.
E o que são afinal “redes sociais”? São justamente isso que o nome sugere: sites dos quais pessoas dos mais remotos lugares ou não, se unem à outras com afinidades e gostos parecidos ou não, com a finalidade de se relacionarem umas com as outras, trocarem informações e debaterem sobre os mais diversos assuntos, ou não. Ou seja, um ambiente de “estabelecer” todo o tipo de relação social. Os velhos conceitos de conquista, aproximação, relação pessoal se esfacelaram. Não é o apocalipse, mas é no mínimo curioso que, no espaço de tão pouco tempo, formas de comportamento de uma geração tenham sido abruptamente derrubadas com a ajuda da mesma geração (!).
Infelizmente, embora as redes sociais tenham um papel inquestionável, seja na política, seja na abreviação da comunicação, é fato, sem querer ser piegas, que os imperativos de amizade, carinho e amor sofreram uma metamorfose se tornando cada vez mais frios e artificiais. E foi com o Facebook e Twitter, dois dos deuses da nossa era, que estes fenômenos se potencializaram. A comunicação e interação social se tornaram vastas, porém, mais distantes e mecânicas, numa realidade que aproxima e distancia ao mesmo tempo. Os valores e os sentimentos parecem ter sidos fragmentados e digitalizados. O beijo úmido foi compactado em “bj” no final da frase, assim como o abraço caloroso e apertado foi sintetizado num simples “abç”. Adeus às conversas longas e às frases elaboradas; no lugar, ficaram as palavras “quebradas”, digitadas de qualquer maneira. As cartas escritas, as rodinhas de violão com os amigos em volta da fogueira e o flerte na praça da matriz se tornaram tão demodé quanto o uso da palavra “flerte”.
Os que compõem a geração “touch screen”, a mais informatizada e informada da história, usando o Facebook e o Twitter como ferramentas, também se tornaram formadores de opinião, politicamente corretos (por causas politicamente corretas) e militantes do que estiver em pauta; mas, também, individualistas, distantes, e vítimas da “Síndrome de Narciso”.
Essa é uma geração high tech, antenada, descolada e paradoxal: é a mesma que derruba ditadores sanguinários na África e Ásia e no outro dia, numa postagem em algum site de relacionamentos, aos quatro ventos, chora as mágoas por uma decepção amorosa. É a mesma que posta a foto de Jesus o dia inteiro no Facebook junto a uma frase de efeito de partir o coração do mais cético ateu, mas, na rua, é incapaz de ser solidária e de esboçar um sorriso a quem passa pela calçada. É a mesma que milita contra a corrupção no Brasil, mas, não consegue ter a honradez de devolver a carteira com dinheiro encontrada.
Enfim, essa é a geração da qual cada um possui centenas ou milhares de amigos, que ri e chora pelos mesmos motivos, que é feliz ou infeliz de acordo com seus humores instáveis; que curte e compartilha tudo, mas que, ao ficarem horas a fio em frente do computador até varar a madrugada numa procura desenfreada por atenção e companhia, na verdade, só está compartilhando a própria solidão.
Paulo Faria é um amante do cinema de horror e rock ‘n’ roll. É professor por formação, humorista por conveniência e escritor por aspiração.