Paulo Faria

Este é um artigo ou crônica pessoal de Paulo Faria.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.

O culto aos deuses de carne

Passamos a desfrutar no outro todas as nossas ambições de bem-estar, prazer incondicional e contentamento.

Publicado em 02/07/2014 - 16:07    |    Última atualização: 02/07/2014 - 16:08
 

Não há coisa mais procurada neste mundo que a tal felicidade. Essa busca é tão antiga quanto o tempo em que o primeiro homem e a primeira mulher ainda engatinhavam pelo jardim do Éden. É fato, também, que não existe nada mais abstrato, mais impalpável do que ela. Muitos juram serem felizes, enquanto outros, não. Para parte daqueles inseridos no primeiro caso, a felicidade pode ser efêmera criando assim uma dicotomia: afinal, nos sentimos felizes, somos felizes ou estamos felizes? O que realmente nos traz a satisfação plena? Muitos diriam que a compra do tão sonhado carro, aquela viagem ao exterior, ou ganhar um prêmio na loteria fariam suas almas se preencherem do manancial do que julgam ser a felicidade. Porém, me arrisco a abrir espaço para polêmica ao apontar quais seriam nossos verdadeiros anseios de felicidade.

10510345_644252535665388_731901493_nÉ certo que Adão andava meio solitário no começo dos tempos; então, vendo Deus sua situação de homem só, criou para ele uma companheira para que ambos desfrutassem juntos das benesses do paraíso terrestre. Nascia ali, talvez, o primeiro registro de alegria e de gozo (sem trocadilhos, por favor).

A satisfação do homem então passou a estar intrinsecamente ligada à mulher e vice e versa. Passamos a desfrutar no sexo oposto – ou naqueles do mesmo sexo, dependendo da situação – todas as nossas ambições de bem-estar, prazer incondicional e contentamento. O “outro” passou a ser nosso objeto de busca pela felicidade e o “sentido de viver”.

Exagero? Nem um pouco. Em seu livro “Mente Seletiva”, Geoffrey Miller – um respeitado especialista em psicologia e genética comportamental – levanta uma interessante questão: por que alguém com um milhão de dólares arrisca tudo para dobrar seu capital? A resposta dele para a pergunta: mulher.

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Miller, que em seu livro expõe sobre o comportamento humano e sua seleção sexual, acerta em cheio com seu questionamento seguido, claro, da resposta obvia. Neste excerto, o autor deixa claro a ideia de que no jogo instintivo de nossas preferências sexuais, a felicidade não está diretamente ligada ao dinheiro e sim no que este atrai. Por isso homens tentam ostentar o poder no intuito de se sentir confortáveis na arte de seduzir o sexo feminino. Esta busca do homem pelo poder se verifica até nas coisas mais comezinhas do cotidiano, como por exemplo, no ato de comprar uma roupa nova ou fazer um corte “fashion” no cabelo: no fundo, todas essas atitudes corriqueiras são em prol de outro ser humano e não para si mesmo. E as mulheres, claro, também têm suas armas. Se não, por que passariam horas a fio em alguma academia, turbinariam os seios ou usariam aquela peça de roupa que sugere mais do que mostra?

Durante a história, nas diversas esferas sociais, sempre tivemos relatos de incestos, adultérios, orgias, concubinatos, amor incondicional e a busca desenfreada pelo prazer carnal. Talvez isso demonstre que, de alguma forma, a conquista de povos, de territórios, a erguida de impérios e a ostentação de poder, sempre teve, mesmo que indiretamente, um pressuposto para a conquista do ‘deus maior’, o “corpo”.

É só notar que hoje em dia temos uma super valorização do belo, “do bom gosto”, dos padrões enlatados de beleza que nos seduzem através dos meios de comunicação em massa. Nossa felicidade passa a partir daí a estar ligada ao desejo supremo de ter o melhor do sexo, o melhor do amor, como se nossa vida dependesse disso. Claro que nossa vida talvez dependa apenas de doses extras de dopamina e oxitocina, o que na maior parte advém da nossa relação libertina com o outro.

Somos eternos idólatras cultuando os deuses de carne.

Por Paulo Faria.
paulossfaria@yahoo.com.br

Sobre Paulo Faria

Paulo Faria é um amante do cinema de horror e rock ‘n’ roll. É professor por formação, humorista por conveniência e escritor por aspiração.


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