Paulo Faria

Este é um artigo ou crônica pessoal de Paulo Faria.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.

Depressão: como eu lido com ela (e o que você deveria saber)

Você acorda, e a pior sensação é a de abrir os olhos. Você não entende o porquê de estar vivo. Você não quer estar vivo.

Publicado em 07/12/2019 - 13:48    |    Última atualização: 07/12/2019 - 13:50
 

É extremamente difícil quando você inicia um texto no qual você terá que desnudar sua vida. É como se você quisesse parir para o mundo sentimentos pessoais para colher retribuição de afeto ou clamar pela atenção (na maioria, vazia e falsa) alheia. Mas não é.

Neste texto, vou abrir mão de uma privacidade que tenho apenas com familiares e amigos e compartilhar de um problema que talvez possa ajudar pessoas que passam por situação semelhante. Vamos lá: sofro de depressão. É isso. Tenho uma doença “silenciosa” que agride o mais profundo do nosso âmago, e isso não é brincadeira.

De novo: não é fácil expor para milhares de pessoas que certamente irão me ler um problema extremamente pessoal; não, não é. Mas me senti na necessidade de contextualizar um pouco sobre minha vida para que isso talvez sirva de auxílio para aquém está passando pelo mesmo problema.

Cada indivíduo é único; cada ser tem suas peculiaridades, mas friso aqui um resumo, um ponto da minha personalidade que talvez tenha alguma similaridade com quem está lendo este texto neste momento: sempre fui nostálgico; lembranças tem um fator preponderante na minha vida; faz parte da minha personalidade. A ansiedade é uma constante também, e isso sempre preocupou amigos e familiares. A inquietude te sufoca. Pequenas coisas do dia a dia me afligem como se isso fosse o maior dos problemas do mundo: medo do futuro e saudade do passado – o presente é um fardo.

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Eu sempre pensei que isso fora apenas alguns traços da minha personalidade – não é. Este ano fui diagnosticado com depressão, síndrome do pânico além de ansiedade e TDAH.

Como bebo, o álcool pra mim sempre serviu como um paliativo: me transporta para mundos distantes e me distância da realidade. Meu quarto é uma “fortaleza”, um abrigo. Se embebedar ouvindo um rock clássico num mundo apenas meu me dá a sensação de transcendência; é a melhor sensação do universo: neste mundo não existem problemas – é apenas a falsa viagem através do mágico e abstrato.

Quando percebi que o problema estava insuportável, fugindo ao controle, procurei ajuda. Sim, deixei de lado o pré-conceito e a falsa ideia de que isso era apenas uma “viagem” da minha mente e procurei auxílio em todas as formas que eu poderia encontrar: psiquiatria, terapia, academia e igreja – ou como queira, Deus.

É incrível isso. Sou um jovem saudável, popular, tenho dois empregos, alguns bens materiais, uma família incrível, os melhores amigos do mundo, uma vida socialmente ativa, já ouvi os melhores discos, li alguns dos melhores livros, ou seja, não me “falta” nada. Mas a tristeza de quem tem depressão é algo que te açoita rasgando seu espírito. Não importa quem você é ou o que você possui. (Isto é importante e você precisa saber: você pode ser rico, ter uma saúde física incrível, ser bonito, ter o melhor carro, os melhores relacionamentos, ser popular, enfim, a depressão pode te pegar independente de como você está; ela não escolhe. Ela é um problema psiquiátrico na qual envolve variadas questões e que ainda não existe um consenso no mundo científico sobre o caso. Não tem nada haver com o Diabo. Ele pode até dar uma mãozinha, mas não é o responsável absoluto.)

Minha ex-terapeuta me pediu pra explicar, numa de nossas sessões, o que eu sentia nos meus piores momentos (à época, ela queria que eu escrevesse e publicasse). Eu explanei: é uma várzea, um limbo. Você acorda, e a pior sensação é a de abrir os olhos. Você não entende o porquê de estar vivo. Você não quer estar vivo; é simples assim. Acordar é o maior martírio do mundo.  No meu caso, em tempos de crise, a coisa se torna uma sádica obsessão: “E seu jogasse este carro na frente do caminhão?; e se eu amarrasse uma pedra em mim e me jogasse no rio aqui próximo à minha casa?; como seria a morte por enforcamento?; e se eu tomasse um litro de destilado e misturasse com meus remédios (este último eu tentei; não “funcionou”…)

Depois de quatro meses, entre terapia, remédios, exercícios físicos, amigos e “Deus” consegui retornar à vida. Foram quatro meses de euforia, rendimento no trabalho, ausência de álcool, bom humor, “felicidade”…

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Mas um depressivo (doente) é sempre um depressivo. Depois de tanto tempo e trabalho eu pensei que jamais seria acometido por isso de novo. Ledo engano. Na última semana de novembro tive uma recaída. Começou com uma leve tristeza sem explicação e descambou para uma melancolia infernal. Dobrei os remédios. Nada. Roguei a Deus. Nada. A vontade de voltar para o limbo me fez beber duas garrafas de vinho de uma só vez e Renato Russo e Anathema foram minhas companhias. A vontade de se autodestruir e se “elevar” é indescritível. Depois disso, um amigo me disse: “cara, recaída você sempre vai ter. O negócio é como você vai lidar com isso”.

Essa é a pergunta: “Como lidar com isso?”.

Pois bem, eu quero terminar dizendo: apesar de tudo, no momento eu escolhi viver.   Meu desejo é poder contar histórias no próximo verão e rir de tudo isso mais uma vez. Aos que chegaram ao fim deste texto eu digo: tente! Tente mais uma vez . Claro que isso parece mais uma psicologia de porta de botequim, mas não existe fórmula exata para o problema, infelizmente.  

Por mais que eu neste momento esteja triste e me sentindo acabado, eu desejo que este artigo seja nosso livro de cabeceira, e que a gente – eu e você continuemos tentando. Você não precisa saber escrever, cantar, fazer poesia… você só precisa ser o filho, o pai, a mãe, o irmão, o amigo, e mais uma vez… tente não desistir.

Por Paulo Faria.
Siga no Instagram: @pssf999

Sobre Paulo Faria

Paulo Faria é um amante do cinema de horror e rock ‘n’ roll. É professor por formação, humorista por conveniência e escritor por aspiração.


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