Paulo Faria

Este é um artigo ou crônica pessoal de Paulo Faria.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.

Dennis DJ e a “cultura do furto de celular”

...a junção de todos esses fatores mais uma possível falta de segurança culminou no que todo mundo ouviu falar ou foi vítima. Matematicamente não tinha como dar certo.

Publicado em 07/07/2016 - 13:40    |    Última atualização: 07/07/2016 - 13:40
 

No último dia 18, quem compareceu a apresentação do Dennis DJ no parque de exposições de Espera Feliz, certamente ouviu falar de alguém que teve o celular furtado; isso se o próprio não passou por situação semelhante. O alarido a respeito do ato foi inédito por se tratar de um show privado e com ingresso caro para os padrões da cidade. Várias pessoas se manifestaram indignadas em seus perfis nas redes sociais, de forma que até o Portal Espera Feliz chegou a noticiar o ocorrido.

Mas afinal, qual a explicação lógica, ou pelo menos no mínimo aceitável, para justificar o injustificável no referido evento?

Bom, talvez exista alguma elucidação antropológica para o caso, mas prefiro me ater a fatos mais palpáveis.

Dennis DJ é um artista popular.  É um artista cujo reflexo é o espelho de nossa miscigenada cultura.  O problema é que somos um país, que dentre todas as bizarrices, ostenta ter um Ministério da Cultura que serve apenas para sustentar artistas milionários e/ou desviar dinheiro público; somos um país cuja educação não é e nunca foi prioridade; e, pra completar, convivemos com todo tipo de malandragem, crise econômica e criminalidade generalizada. Nós somos uma tragédia. Fracassamos. Não existe qualquer forma de tentar nos justificar como uma nação civilizada. Vai ver,  a culpa seja de Sérgio Buarque de Holanda.

Continua após a publicidade...

E o que o Dennis DJ tem com isso?

Continuo. Sendo ele um artista popular, um representante-mor da nossa cultura, uma apresentação sua reúne os mais diferentes tipos dentro do mesmo nicho, levando em consideração toda nossa diversidade “cultural”. Seu apelo popular move as massas; “top” e “ralé” disputam o mesmo espaço de diversão. É uma catarse popular que só pessoas como ele num país como o nosso consegue aglutinar.

E este país ao qual me refiro, 75% das pessoas não sabem interpretar um texto simples; é um país onde existe sim uma cultura do consumismo e ostentação, mas desigual, onde nem todos foram alçados a condição de consumir elementos básicos de consumo ou culturais; é um país onde querer levar vantagem em tudo é sinal de argúcia; é um país onde o funk carioca e novela das oito são nossos maiores patrimônios culturais; é um país, como já fora dito, deseducado por natureza.

E em Espera Feliz, a junção de todos esses fatores mais uma possível falta de segurança num show de um artista que nos representa culturalmente culminou no que todo mundo ouviu falar ou foi vítima. Matematicamente não tinha como dar certo.

Nos últimos anos quiseram nos ensinar que é necessário consumir; que fomos elevados à condição de civilidade de primeiro mundo, e acreditamos. E assim como os DJ’s ou os Safadões da vida são a nossa imagem e semelhança cultural, ter um celular de última geração é a representação máxima do nosso poder de ostentação. Mas, independente se os crimes cometidos no show foram de cunho ostentativo ou para outros fins, nada, simplesmente nada, justifica tamanha picaretagem.

Depois dos referidos furtos aos celulares e até roubo à mão armada no “show do Dennis”, ouvi de algumas pessoas que o “motivo” foi que “ao liberar os portões, quem se encontrava na pista passou para área “vip”. Vejam só: o fato de ocorrer furtos em massa naquele evento foi porque os desvalidos da “pista” invadiram a área “vip” causando esse “inconveniente”. Cerca de 30 reais, segundo alguns, separaram a tragédia que vitimaram os fãs “top” do DJ Dennis. Num país que te arrancam o pescoço para te levar o cordão, a ignorância e hipocrisia são o mal maior.

Continua após a publicidade...

Em algum lugar, nesse momento, Dennis DJ está (merecidamente) ganhando seus milhares de reais, enquanto nós, seres comuns e mediocremente cínicos, estamos a padecer de um mal terrível: a Brasileirisse.

Por Paulo Faria.

 

Sobre Paulo Faria

Paulo Faria é um amante do cinema de horror e rock ‘n’ roll. É professor por formação, humorista por conveniência e escritor por aspiração.


  • Plano Assistencial Familiar Vida

    Rua João Alves de Barros, 277
    Centro - Espera Feliz - MG

    (32)3746-1431

    Plantões
    (32) 98414-4438 / (32) 98414-4440

Clique aqui e veja mais