Este é um artigo ou crônica pessoal de Paulo Faria.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.
(Ilustração: Quézia Aguiar)
Depois de assistir a um filme do Goddard, numa tarde quente tipicamente de verão, sai Chapeuzinho Cor de ‘Abobra’ Madura em direção a casa de seu namorado – um sujeito não muito bonito, sedentário, com cara de mau, e que mora junto a outros mais dois porquinhos – devolver uns CD’s dos SEX PISTOLS e dos RAMONES que ela pegara emprestado uns dias antes para bater cabeça sozinha em casa.
No caminho, encontrou um Lobo (com cara de lobista…), “militante” da extrema esquerda, fazendo um discurso panfletário para uma meia dúzia de gatos pingados – desses que trocam votos por algumas graminhas de ração – a fim de conquistar novos adeptos ao seu partido, um tal de PSCSS, ‘Partido Social da Causa Socialista na Sociedade’.
Ao notar Chapeuzinho Cor de ‘Abobra‘ Madura atravessar por ali, no local onde discursava, o Lobo fitou os olhos na garota que passava distraída. Mas, ao perceber o Lobo olhando atentamente para si, Chapeuzinho Cor de ‘Abobra’ Madura (que já foi de extrema esquerda, esquerda, destra, mas agora ataca de centro-avante), também fixou o olhar em direção ao sujeito, que logo tratou de pedir licença aos seus carneirinhos; se aproximou ligeiramente da moçoila e indagou:
-Aonde vai com tanta pressa, deleitosa jovem?
-Vou à casa de um cara aí devolver uns CD’s.
-Punk rock?!
-É. Gosta?
-Quase mais ou menos. Gosto mesmo é de Caetano, Chico…
-… De Chico só curto o Bento e aquele outro, o Anísio.
Nesse momento, o Lobo encarava indiscretamente para um decote perturbador (na falta de adjetivo melhor fica esse mesmo…), da baby look preta, cuidadosamente picotada a fim de parecer rebelde e com uma estampa com os dizeres “don’t war, make love” da qual Chapeuzinho Cor de ‘Abobra’ Madura trajava. Baby look esta, que deixava propositalmente um piercing dourado no umbigo à mostra e delineava seu fogoso corpo de morena de academia.
A moça percebendo a indiscrição libertina do Lobinho questionou:
-Mas que olhos grandes você tem!
-É que eu sou um político muito bem sucedido e levo a profissão à sério!
-E que nariz grande você tem!
-É inchaço. Ficou preso outro dia na porta do meu Porsche vermelho…
Foi nesse instante, durante esse papo-cabeça, que Chapeuzinho Cor de ‘Abobra’ Madura percebeu como a vida é irônica, pois, o acaso lhe reservara alguém tão especial em um ambiente que não era típico do seu círculo social, com qualidades que ela sempre almejara.
Nascia entre eles algo mais forte que a amizade…
Moral da história: “Não importa o quanto você ouça punk rock, assista a filmes intelectualóides, seja um militante da esquerda ou tenha uma ideologia de vida. Os interesses INDIVIDUAIS sempre superarão os COLETIVOS”.
Outra moral (essa pode até ser a mais importante, dependendo do ponto de vista de quem lê): “Desde que o mundo é mundo, mulher gosta é de grana (e a tudo que a isso implica…) e homem gosta é da “carne””.
Terceira moral: “A segunda “Moral”, só foi escrita para fins irreverentes, não devendo, portanto, ser levada muito à sério”.
Paulo Faria
paulossfaria@yahoo.com.br
Paulo Faria tem vinte e tantos anos; é uma amante do cinema de horror, rock ‘n’ roll e das artes em geral. É professor por formação, humorista por conveniência, músico por obsessão e escritor por aspiração.
Paulo Faria é um amante do cinema de horror e rock ‘n’ roll. É professor por formação, humorista por conveniência e escritor por aspiração.