Este é um artigo ou crônica pessoal de Mara Rubia.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.
As coisas mudam.
E mudam, assim, do nada.
Ninguém esperava aquela atitude. Nem parentes, nem vizinhos, nem ela.
Ele comunicou que não estava mais feliz e foi embora, deixando planos futuros se dissiparem como fumaça. Não que o futuro seja real e fixo. Mas, o presente dela não apresentava uma placa de “curva acentuada à direita”, então, o caminho previsível era aquele combinado, sem grandes mudanças, algo mais contínuo.
Pobre jovem cheia de sonhos seguros. Só que ele resolveu virar à direita, assim, abruptamente, deixando no ar, para ela e para os interessados na vida alheia, a sensação duvidosa de que a curva nem era tão inesperada e, na verdade, estava até prevista na rota dele há mais tempo. E, para saciar ainda mais todos os sedentos por novidade, a carona que ele deu, após mudar a condução de sua trajetória, já o aguardava, logo ali, depois da tal curva.
Se, pelo menos, ela imaginasse uma coisa dessas, apertaria o cinto, pisaria no freio para o impacto não ser tão grande. Teria tido um tempo para reavaliar a situação e pensar em novas maneiras de viver. O que era viver sem ele?
Pobre jovem que ainda não tinha se quer tomado as rédeas de sua própria existência. Estaria pronta para a vida?
Só que a vida é urgente e, às vezes, ela não oferece chance de se aprontar para determinados espetáculos. Assim sendo, pronta ou não, lá estava ela, parada antes da curva, tentando vislumbrar em que momento da narrativa ela adormeceu, perdendo as deixas que previam essa parte do enredo.
Naquele instante, por mais que a neblina escondesse a estrada, ela seria obrigada a decidir para onde ir. Caminhos distintos se apresentavam enquanto sua história era, ali, redefinida.
Poderia seguir em frente. Aquele rumo do futuro linear, o qual ela já havia traçado. E, mesmo sem estar com ele, talvez desse para fugir da realidade e fingir que não estava perdida. Seria descrita como a louca, por aqueles mesmos que acharam covarde a atitude dele.
É que todos representam um papel na movimentação da vida. E, esses espectadores, que uma hora entendem o porquê de se perder a sanidade, são também os que não aceitam bem quando a insanidade chega. Esperam brio de onde há cinzas.
Também era possível virar à direita, atrás dele, atrás do galã, sabendo que não seria mais a mocinha da história. Iria, ao menos, causar um tumulto nesse novo script cretino e desonesto. Seria vista como a vilã, essa trágica personagem envolta de inveja, amargura e outros tantos dessabores.
Ela bem que tentou conversar, buscando resgatar o caminho do meio. Depois tentou brigar, virando à direita. É certo que foi julgada pelos figurantes da vida.
Sem muita alternativa, ela virou à esquerda, traçando novo curso por um lugar desconhecido. Sentiu medo. Sentiu solidão. Sentiu a pressão de ter que se mostrar segura. Afinal, ele já estava em outro “caminho reto”, um “do meio” que agora era só dele e de outro alguém.
Não sem dor, ou rancor em alguns momentos. Não sem olhar para o lado, de vez em quando, esperando alguém da plateia se levantar para dizer que era tudo armação. Não sem se questionar e se culpar. Não sem antes se perder… Ela entendeu que o processo criativo de escrever sua própria história dependia das curvas do caminho. A questão não era fugir e procurar uma reta sem fim. Inexistente. A questão era se sentir segura em si.
Um dia, lá no futuro real dela, ela vai olhar para tudo isso e rir. Rir muito de um coadjuvante ter tentado roubar a cena. E, quem sabe, vai até perdoá-lo. Ela vai ter entendido que esse coadjuvante, com tendência a antagonista, foi de grande ajuda para a descoberta de seu próprio papel na trama.
É que foi na obrigação de assumir o volante que ela se tornou a personagem principal dessa viagem louca.
Por Mara Rubia.
Graduada em Letras e Pedagogia, atua como Especialista em Educação Básica na rede estadual, mas para este espaço, esta não é a parte mais interessante sobre ela. Aqui, o que mais importa são as várias facetas das vozes que a habitam e que insistem em emergir através das palavras. Nesse lugar, ela será tantas, mas tantas, que seria impossível uma definição.