Farley Rocha

Este é um artigo ou crônica pessoal de Farley Rocha.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.

Uma noite na Taberna

É da tradição de Espera Feliz estabelecimentos como este, onde rock’n roll e cultura pop reúnem uma fiel clientela.

Publicado em 26/02/2019 - 16:54    |    Última atualização: 26/02/2019 - 16:54
 

Falta pouco para meia-noite e a sexta-feira já dorme sobre o Bairro João do Roque e adjacências do Trevo. No asfalto, enquanto o amarelo incandescente dos postes e o vermelho das lanternas dos carros clareiam o trânsito da BR 482, sentido Espírito Santo, aqui dentro nossa mesa é iluminada pelos clips na TV acima do balcão. Sob o toldo de acrílico da parte externa, a Goodfellas faz um som ao vivo para diversão da galera. Estamos na Taberna do Vale, um dos bares mais descolados da região.

Depois que o garçom nos traz a cerveja, acompanhada da cortesia de amendoins torrados, nosso grupo comenta que é da tradição de Espera Feliz estabelecimentos como este, onde rock’n roll e cultura pop reúnem, por gosto musical, uma fiel clientela. No passado houve um point deste mesmo estilo chamado Bar do Celinho, que ficava próximo ao cruzamento da Roque Ferreira de Castro com a João Sebastião de Amorim. Era meados dos anos de 1980 e seu público, formado em maioria pela juventude daquela época, lotava seus balcões e mesas nos finais de semana ao som de LP’s e K7’s de bandas nacionais e estrangeiras.

Os de fora dizem que, apesar das raízes sertanejas, sempre pairou sobre Espera Feliz uma aura roqueira e underground, que deixa nossas noites muito mais interessantes. É que talvez sua atmosfera fria de cidade serrana, ambientada pela natureza das montanhas e cachoeiras, seja propícia a trilhas sonoras que combinem aventura e boemia – seja nas mesas dos bares do centro, nos churrascos de sábado à tarde ou nas festinhas organizadas em sítios.

Tanto que dos anos de 1990 até por volta de 2010, existiu por aqui outro estabelecimento com proposta parecida, onde quadros do The Doors e Jimmy Hendrix decoravam as paredes escarlate e clássicos do rock ecoavam das caixas de som. Era o Central do Chope que, além do cardápio de porções, cervejas e cuba-libre também servia músicas de bom-gosto em sua playlist variada. Fosse em concentrações para blocos de carnaval ou festas de exposição, era certo ter Pink Floyd, Metallica ou Nirvana no tocador de CD embaixo do balcão.

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Recentemente, quem protagonizou esta cena alternativa foi o Montanhês Café, que inovou as noites de Espera Feliz ao oferecer um recinto cheio de referências modernas e sofisticadas, desde à arquitetura dos pubs europeus até a escolha de músicas pelo próprio cliente. Este bar, instalado no primeiro piso do histórico Hotel Montanhês, oxigenou nossa boemia noturna e trouxe vida à parte velha da cidade.

Agora, quem dá sequência à tradição roqueira de Espera Feliz e preenche a lacuna deixada por esses bares já extintos é a Taberna do Vale, onde música boa e cerveja gelada continuam sendo a alma do negócio.

Localizada ao lado de um posto de gasolina à beira da rodovia, a Taberna do Vale é uma mistura de pub irlandês com bares de cidadezinhas norte-americanas. Em seu interior há freezers personalizados, prateleiras com garrafas de destilado, uma mini tabacaria, paredes e tetos revestidos com ícones do rock e um espaço de quadro negro onde se pode desenhar, escrever poesias ou rubricar o nome com giz escolar.

Neste instante, enquanto conversamos sobre planos de viagens e discutimos conspirações políticas que afundaram o país na lama, no lado de fora do bar a banda Goodfellas executa um cover do Artic Monkeys a menos de um metro de distância do público, que se agita entre as mesas plásticas sobre o chão de sextavados de concreto e faz gestos de guitarras imaginárias sob a lua clara no céu. Cá de dentro, observamos a juventude deste final de década sorrindo por traz de seus copos, casais se beijando próximo à porta de entrada, garotas cantando e fazendo stories com longnecks na mão, barmans preparando drinks coloridos e garçons reabastecendo a cerveja das mesas cheias de amizade. Porque a melhor parte da boemia não é o grau etílico, mas a música rolando solto e as boas companhias. Até que a alta madrugada chegue e com ela as lembranças dos encontros, das conversas e do rock’n roll de uma noite na Taberna.

Por Farley Rocha.

Sobre Farley Rocha

Farley Rocha é professor, fã do Radiohead e do Seu Madruga. Já plantou uma árvore, escreveu um livro e edita o blog http://palavraleste.blogspot.com


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