Farley Rocha

Este é um artigo ou crônica pessoal de Farley Rocha.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.

Sou da América do Sul… Sou da Serra do Caparaó

Ficar de frente à grandiosidade do mundo deve ser o mesmo que encontrar com Deus.

Publicado em 03/08/2015 - 13:36    |    Última atualização: 04/08/2015 - 08:36
 

São poucos os que dão conta, mas morar numa região onde um monumento natural imponente como é a Serra do Caparaó se faz presente é, de certa forma, viver em um lugar especial. Sem perceber, habituamo-nos a uma cultura própria de quem é da montanha, pois é entre os morros que a agricultura é trabalhada, é pelos vales que as estradas são construídas, é nas montanhas que antenas transmissoras são instaladas, e assim nos acostumamos a olhar o céu esbarrando nos picos, a buscar horizontes descobertos sobre as colinas. Até na linguagem local a serra influencia, quando se tornam comuns no nosso vocabulário expressões como “lá no alto”, “descer até Carangola”, “subir a serra”, “virar o morro”, “depois da grota”, “atrás da montanha” etc. Nossos vales e cordilheiras são tão sacramentados em nossa identidade que, ao viajarmos para longe, geografias retas e de planícies horizontais nos soam monótonas e previsíveis.

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Foto: Luis Gonzaga.

Talvez por estar tão arraigada em nossa rotina é que a serra nos mantém reféns de suas entranhas, fazendo com que muitos de nós – que não importamos quase nada com o frio, cansaço e dores no corpo – escalemos o Pico da Bandeira todos os anos, rumo ao espetáculo do por ou nascer do sol. Não importa quantas vezes a pessoa vá, pois cada visita ao Parque é de um jeito. Andar por aquelas trilhas é algo incomum e sempre surpreendente. Estar lá é uma experiência única e individual: enquanto uns odeiam, muitos amam. Mas para quem gosta, o topo do Pico é um lugar mágico e imaculado, talvez pela dimensão da vista que se tem lá de cima, ou pelo cenário de um mundo ancestral conservado nas rochas e penhascos, ou pela simples paz que o silêncio da montanha ecoa em nossa alma.

Certamente os índios do Vale do Carangola e das margens do Manhumirim, há duzentos anos chamavam-no de Montanha Sagrada não à toa. É que os guerreiros indígenas que já estiveram em seu topo comungavam do mesmo espírito dos exploradores do antigo Caparaó e dos aventureiros de hoje em dia: ficar de frente a grandiosidade do mundo deve ser o mesmo que encontrar com Deus.

Por Farley Rocha.

Sobre Farley Rocha

Farley Rocha é professor, fã do Radiohead e do Seu Madruga. Já plantou uma árvore, escreveu um livro e edita o blog http://palavraleste.blogspot.com


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