Farley Rocha

Este é um artigo ou crônica pessoal de Farley Rocha.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.

5 poemas de “Mariposas ao Redor”

Escrevo-me como pergaminho, a mim ensino com quantos sonhos se faz uma vida.

Publicado em 18/08/2023 - 14:43    |    Última atualização: 18/08/2023 - 14:43
 

Meu contato com a literatura ocorreu muito cedo, mas foi durante a adolescência, assombrado por letras de música dos Engenheiros do Hawai, Legião Urbana, Zé Ramalho, Adriana Calcanhotto e Zeca Baleiro que estreitei intimidade com isso que chamamos de “poesia”.

Só depois, com a leitura de Drummond, Marcos de Castro, Bandeira, Guerá Fernandes, Gullar, Manoel de Barros e mais um catatau de outros poetas, consolidei minha visão e meu jeito de interagir com o mundo, de alguma forma fazendo da palavra meu pão e oxigênio.

Até que em 2011 abri a gaveta e publiquei Mariposas ao Redor,meu primeiro livro de poesias. É uma pequena coletânea composta por 43 poemas, selecionados de rascunhos de um extenso caderno e dezenas de folhas avulsas que vinha escrevendo desde a faculdade.

Trago abaixo cinco poemas dele, cinco textos poéticos – e um pouco estabanados – como são as mariposas quando voam ao redor.

*  *  *

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Ternura de passarinho

Quem me dera

conhecer a linguagem dos pássaros,

saber chegar onde as andorinhas

para pairar solene

em pôr-do-sol de maio.

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Quem me dera

saber assistir de breve

o amanhecer dos pombos,

povoar os céus em tardes rubras

de outono,

mergulhar rasante como

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nenhuma máquina pode copiar.

Quem me dera

sobrevoar por vales distantes

onde o discurso único

seja o canto de uma águia rara, solitária.

*  *  *

Momentos em versão acústica

Saber tocar a vida

como se toca gaita,

flauta, um som qualquer.

Pelas avenidas

imaginar baladas,

ouvir pelas esquinas

a música passar

como fanfarra.

Imaginar o toque doce do sopro do vento

nas janelas.

E por assim dizer,

até os casarões soariam sonoros.

*  *  *

Mil luas

Mil luas

em diferentes estágios

circulam as entranhas mitológicas

de um ser frágil.

Mil luas

em obstantes presságios

iluminam as membranas sóbrias

de um visionário.

Ao cair da noite,

as mil luas saltam das montanhas revelando seres

no profundo verde dos campos

e no cinza concreto

das florestas urbanas.

E diga-se de passagem,

as mil luas são estrelas

ou satélites imaginários

na pele do universo, tatuagens.

Brilhantes orquídeas: poesias.

Em pleno deserto: miragens.

*  *  *

Noite na serra

É de manhã

cedo, linha e lã.

O chá chimarrão

ao ferver-se da água

na fogueira ainda acesa

aquecendo o frio

a princípio da manhã.

A noite shy moon, blackbird e chão de giz

nos acordes acordados das cordas em corais

se desfaz agora

com a bagunça dos pardais

e os primeiros raios de sol

despertando o pessoal

para arrumarmos as mochilas,

descermos a serra,

pisarmos o chão.

*  *  *

Sereno sonho

Escrevo-me como pergaminho,

a mim ensino

com quantos sonhos se faz uma vida.

Atiro-me solstícios de primavera

e espero, sempre olhando,

o dia que se apaga

no mesmo lugar

pra inventar sonhos,

num lugarejo qualquer

rodeado por montanhas,

chaminés e grilos,

enquanto aguardo ostensivo

os sonhos caírem ao sereno.

Por Farley Rocha.

Sobre Farley Rocha

Farley Rocha é professor, fã do Radiohead e do Seu Madruga. Já plantou uma árvore, escreveu um livro e edita o blog http://palavraleste.blogspot.com


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