Farley Rocha

Este é um artigo ou crônica pessoal de Farley Rocha.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.

2 x 1 e aquele gosto de guarda-chuva

Para nós, perder uma Copa do Mundo significa doer-se muito mais do que qualquer outra nação.

Publicado em 13/07/2018 - 13:17    |    Última atualização: 13/07/2018 - 13:17
 

Mesmo com dois gols da Bélgica no primeiro tempo, persiste a esperança de virarmos o jogo. E não é por nossa natureza de resistir às adversidades, mas por constatarmos que a atual seleção brasileira não lembra nem de longe aquela do inenarrável 7 X 1.

Embora não esperemos, perder nas quartas de final de uma Copa do Mundo que surpreende por seus resultados tão inusitados é sim uma possibilidade.

Por mais que esta nova geração de canarinhos da terra seja uma promessa, sabemos que o time dos belgas também se compõe de muitos talentosos canários, o que faz desta partida não apenas uma disputa pela vaga, mas uma exibição de habilidades e táticas em que é difícil dizer qual lado é o melhor.

Mas o Brasil não se abate diante da vantagem que levam os de camisa vermelha e, contrariando as expectativas em relação às seleções latinas, tão impulsivas e temperamentais em seu estilo de jogo, mantém a organização do grupo e focaliza seu objetivo com chuteiras de ferro: empatar, virar e ganhar a partida! Porém, o intervalo não tarda a chegar e os 2 X 0 vão adquirindo status de uma desagradável preocupação – para os jogadores e, principalmente, para nós torcedores.

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Os 15 minutos entre um tempo e outro nos servem para avaliar o desempenho da seleção até agora. O trabalho que o técnico Tite vem fazendo talvez seja o mais sólido desde o penta de 2002, pois é nítido que hoje, se comparada aos mundiais anteriores, nossa equipe se constitui de nomes que, além do alto nível, têm como força motriz o trabalho em conjunto e o senso de responsabilidade que o novo futebol exige de seus atletas. O que o Brasil perdeu, em partes, de sua capacidade intuitiva, ganhou em ciência e dedicação, como é a tendência desse esporte no continente europeu.

Esta credibilidade se confirma ao reiniciar a partida, quando nossos jogadores demonstram a cada minuto a inconfundível garra sul-americana para vencer, atacando inúmeras vezes a área adversária e barrando as raras investidas de seu opositor. Até que um gol de cabeça do Renato Augusto, com passe dos pés do polêmico Neymar, reacende nossa esperança e a promessa de um possível melhor jogo desta Copa, no caso de empate seguido de uma virada histórica e cheia de emoções.

Mas como uma metáfora da própria vida, o futebol é feito de altos e baixos, surpresas e desventuras, vitórias e derrotas. Quando o juiz apita o fim da partida, temos que encarar a dura verdade de mais uma eliminação e o sonho do hexa ser adiado por mais quatro anos. Contudo, sair do campeonato nas quartas de final já não nos pesa como a frustração de outras épocas, e sim como parte da conquista. Pois o esforço demonstrado pela seleção brasileira até o último segundo dos acréscimos devolveu a grandiosidade que sempre teve o nosso futebol e revelou que sua fase ruim já ficou para trás. Perdemos sim, mas perdemos com dignidade, como na Espanha em 1982 ou na França em 1998.

Se até gigantes como Holanda e Itália nem se classificaram nas eliminatórias e a campeã Alemanha foi prematuramente eliminada da competição, é razoável considerar que o Brasil, só por ter chegado até aqui, foi tão vitorioso quanto o Uruguai de Suárez e Cavani.

E disso nos fica a impressão de que todas as más atuações do Brasil nas últimas três Copas do Mundo, tanto dos jogadores quanto dos ex-técnicos e comissões – e até mesmo a fama de cai-cai do nosso prodigioso Ney – são percalços pelos quais nosso esporte nacional teve que passar para amadurecer e que, inevitavelmente, culminará na Seleção Canarinho de volta ao topo.

O problema é que para o brasileiro futebol é bem mais que um esporte. É um misto de paixão, arrebatamento e cultura com traços muito fortes em nosso DNA. Por isso, para nós, perder uma Copa do Mundo significa doer-se muito mais do que qualquer outra nação – e nenhum povo faz ideia do gosto de guarda-chuva que sempre sentimos toda vez que isso acontece.

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Por Farley Rocha.

Sobre Farley Rocha

Farley Rocha é professor, fã do Radiohead e do Seu Madruga. Já plantou uma árvore, escreveu um livro e edita o blog http://palavraleste.blogspot.com


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