Este é um artigo ou crônica pessoal de Amanda Gerardel.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.
É com grande pesar que escrevo estas linhas. Primeiramente, quero lhe dizer que sim, me importei com você, e sim, eu te amei, da forma que sabia amar, forma essa, defeituosa e cheia de imperfeições, mas ainda assim, amor.
Peço perdão pelas falhas que fizeram com que eu te perdesse, eu tentei por diversas vezes lhe acrescentar um pouco de água, trocar seu insumo e até lhe podar, porém as interpéries da vida fizeram-me distanciar do meu dever. Sinto muito…
Naquela terrivel tarde em que me deixou, eu tinha um plano, calcei minhas luvas de jardinagem, separei até o novo vaso, preparei o regador e peguei a tesoura mais afiada que tinha, mas assim que sai para o jardim, o carteiro me chamou. Entenda, o problema sou eu, a encomenda chegou, me empolguei com a novidade, fiz um café e precisei me sentar para acender um cigarro, você sabe que sempre fumo enquanto bebo café. Marta me ligou contando uma novidade do trabalho e acabei me distraíndo, derramei café em mim e tive de tomar um banho, pois sabe como detesto ficar sujo.
Ao sair do banho, abri a encomenda que estava me chamando a atenção em cima da mesa, era o livro que a tanto esperava, eu planejava até ler algumas páginas dele para você, mas enfim, agora não importa mais. Folheei algumas folhas e lembrei que aquela youtuber que adoro acompanhar havia feito uma resenha imperdível desse livro, então me sentei ao computador para assistir. Não sei como, uma coisa levou à outra, você me entende? Quando dei por mim, estava respondendo a dezenas de e-mails atrasados do serviço e hoje cedo, quando abri meus olhos, o arrependimento me acertou em cheio. Me lembrei de suas belas rosas, seu cheiro inigualável, a alegria que você me traz. Fui correndo ao jardim, mas já era tarde de mais.
Suas raízes já haviam crescido a ponto de enforcar-se dentro do vaso, seu caule estava poroso e com parasitas, suas flores ao chão.
Sinto-me arrasado por ter dado este único deslize, por ter me esquecido de cuidar de você da forma como merecia, por não ter te dado o devido valor, por isso escrevo estas linhas, este é meu tributo à você.
Espero que esteja bem, agora que se tornou insumo da terra, onde o descanso eterno irá lhe trazer o conforto e as alegrias que não lhe prorpocionei. E… sinceramente, espero que não se importe de saber que comprei um cacto e o planetei em seu vaso. Sinto muito, mas preciso seguir em frente e me recuperar do trauma em te perder, e afinal, o cacto não demanda tanto esforço, não preciso podá-lo, nem aguá-lo com tanta frequência. Ele entenderá melhor o meu jeito de ser.
Não se esqueça, sempre serei grato pela beleza que proporcionou aos meus olhos.
Com amor, seu jardineiro.
Por Amanda Gerardel.
Provavelmente a pessoa mais perdida e desequilibrada desse Portal. Seus textos refletem isso, não crie expectativas, apenas leia, reflita e aprecie o que a loucura pode gerar no fenômeno da escrita.