Este é um artigo ou crônica pessoal de Amanda Gerardel.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.
Estou prestes a começar um grande monólogo sobre a crise de meia idade precoce, o desespero social e a procrastinação compulsória. Então se você é o tipo de pessoa que gosta de ver o copo meio cheio, ou que se estimula com frases de coach que dizem que devemos nos mover, que nós somos nossos maiores inimigos, peço por favor que pare por aqui.
Não sou do tipo de pessoa que vê o copo meio cheio. Também não gosto de autoajuda e abandonei minha psicóloga. Talvez eu tenha tendencias masoquistas ou depressivas, porém o que estou passando nesse momento, pode ser o mesmo que muitos jovens estejam vivendo, então compartilhemos nossas cargas para que não pese tanto.
Essa semana está sendo particularmente difícil para mim, o motivo exato, não sei. Peguei-me pensando em algumas coisas ao decorrer dos dias, por exemplo, por que quase me formei duas vezes, mas não consegui pegar meu primeiro diploma e p segundo levou o tempo de fazer duas faculdades? Por que desisti de ser professora? Por que parei de ler meus milhares de livros aos quais não paro de comprar? Por que prefiro dormir dez horas por dia em vez de encarar os aborrecimentos da vida? Por que não lavo a louça suja quando sei que se não lavar, ela não sairá andando e pulará no rio mais próximo para se banhar? Por que me sinto assim?
Após todos esses pensamentos, me vieram várias frases autodestrutivas na mente, tais como: porque você não tem força de vontade suficiente para entrar na van e assistir as aulas necessárias, porque você falhou uma vez como professora e acha que não vale a pena tentar novamente, porque sua mente está tão distraída que você não consegue se conectar
à leitura, porque quando você dorme, não se preocupa com os problemas e enquanto está offline, os problemas ficam em standby, você se sente assim porque procrastina e nunca conclui nada do que começa.
Bem, minha mente realmente é minha maior inimiga, parece que os coachs não estão tão errados assim.
O fato é que, navegando pelo limbo chamado Facebook, podemos notar muitas pessoas no muro das lamentações, reclamando exatamente sobre esses pontos acima, e outras tantas pessoas dando as mesmas respostas que minha mente se dignou a me dar. O que essas pessoas têm em comum comigo?
Bem, tudo e nada, nenhuma delas vive a minha vida, cada uma delas tem seus próprios lamentos, mas todas, ou quase todas vivem na mesma geração que eu. A geração do ‘agora é a hora’, do ‘olha lá seu primo no doutorado e você pagando matéria’, a geração do tem que ter para ser.
Seriam esses meus pensamentos, sintomas de uma doença muito maior? Crise de meia idade precoce? Depressão social?
Não faço ideia, até porque o motivo deste longo e lamentoso texto não é te fazer refletir do que está acontecendo com a humanidade, e sim desabafar, dizendo que não sou especial e como todos que vejo, também tenho meus dias de limbo e hoje é um desses dias.
Mas escrever nos dá a possibilidade de colocar para fora e analisar os sentimentos, será que em vez de me lamentar, de tentar me sabotar com esses pensamentos, eu não poderia simplesmente ter me respondido que, não importa se você não terminou seu curso, hoje em dia os TikTokers ganham mais que seu professor de faculdade e além de tudo você está empregada e satisfeita com seu trabalho? Ou, não importa se não consegue ler seus livros, você passou a vida toda lendo e seu cérebro merece um descanso, afinal você leu mais de 130 livros no ano passado? Ou, relaxa e durma enquanto pode, afinal a insônia é um dos sintomas da menopausa e os problemas ainda estarão lá para serem resolvidos quando você acordar? Ou, por que está preocupada com a louça suja, quando a vida é agora e lavar no almoço ou no jantar irá fazer tanta diferença quanto a alteração da ordem dos fatores no resultado? Ou, me sinto assim porque estamos em um momento de bosta, vivendo em um mundo imediatista e eu seria mais feliz morando em um canto isolado plantando batata e chupando laranja do pé, do que me matando para ter coisas que não preciso e mostrar a pessoas que não conheço que posso ter o que não quero porque sou melhor que elas?
Agora tudo faz sentido, os coachs, os livros de autoajuda, as meditações guiadas… Acho que vou marcar um horário na psicóloga, ou simplesmente voltar a dormir.
Por Amanda Gerardel.
Provavelmente a pessoa mais perdida e desequilibrada desse Portal. Seus textos refletem isso, não crie expectativas, apenas leia, reflita e aprecie o que a loucura pode gerar no fenômeno da escrita.