Em um canto esquecido do mundo, onde os raios de sol acariciam suavemente e as sombras murmuram segredos, existe um espaço peculiar: o Cemitério dos Corações Partidos. Não é um cemitério comum, pois aqui não há corpos, apenas memórias e sentimentos que, por algum motivo, não conseguiram encontrar o caminho de volta ao coração.
Ao atravessar o portão de ferro ornamentado que exibe algumas partes enferrujadas e que range com o peso das histórias não contadas, somos recebidos por uma brisa suave que parece carregar os sussurros de amores perdidos. As árvores centenárias, com seus galhos retorcidos e folhas que caem como lágrimas, emoldurando o caminho de pedra que serpenteia pelo cemitério. Cada curva revela um novo monumento, uma nova dedicatória.
No centro, uma estátua de mármore de um anjo de asas abertas guarda o espaço dos amores não correspondidos. Aos pés do anjo, cartas amareladas pelo tempo, cheias de promessas e esperanças desfeitas, repousam como pétalas caídas. Algumas ainda têm o perfume suave da paixão de outrora, enquanto outras estão manchadas com lágrimas silenciosas.
Mais adiante, há um canto dedicado às dedicatórias e pedidos que nunca foram atendidos. Pequenas plaquinhas de madeira, gravadas à mão, contam histórias de desejos segredados ao vento e de promessas feitas sob a lua cheia. Um banco de pedra, desgastado pelo tempo, convida os visitantes a sentarem e refletirem sobre os “e se” que marcaram suas vidas. Ali, o som do vento entre as folhas parece formar uma melodia triste, uma canção de ninar para os sonhos que nunca se realizaram.
Entre os túmulos, podemos encontrar as flores do arrependimento, flores que nascem apenas ali, com suas pétalas de um azul profundo, quase hipnótico. “Azul profundo – refere-se a tom muito intenso e rico, frequentemente associado a uma sensação de profundidade e mistério. Essa tonalidade é mais escura e saturada, evocando imagens de oceanos profundos ou céus noturnos”. Dizem que quem colhe uma dessas flores e a mantém junto ao coração pode experimentar uma paz efêmera, uma aceitação suave do que não pode ser alterado.
Ao caminhar por esse cemitério singular, percebemos que ele não é um lugar de tristeza eterna, mas sim de lembrança e cura. Cada coração partido, cada amor não correspondido, cada pedido não atendido encontra aqui um espaço para descansar, para ser honrado. E aqueles que visitam este lugar saem um pouco mais leves, com a certeza de que, embora o amor possa não ter sido correspondido, ele sempre terá um lugar especial, um memorial sagrado, onde pode ser lembrado com ternura e respeito.
No fim da tarde, quando o sol se põe e o céu se colore com um laranja intenso, o Cemitério dos Corações Partidos resplandece como uma luz suave e quase mágica. É um lembrete silencioso de que o amor, em todas as suas formas, é eterno, e que cada coração, mesmo quebrado, possui seu valor e sua beleza.
Por Valéria Debosan
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SOBRE A AUTORA:
Valéria Debosan, graduada em História, pós graduada em História do Brasil, Gestão Pública Aplicada à Educação e Administração Escolar, é servidora pública e uma grande fã de Whitney Houston. Ama café, chocolate e margaridas brancas. Também gosta de partilhar seus “rabiscos”. Ela é uma dedicada tutora de sua gatinha, chamada Antônia..