Três alunos memoráveis

Por José Fernandes.

Publicado em 05/08/2019 - 17:45    |    Última atualização: 05/08/2019 - 18:00
 

Foto: Abner Almeida.

Entre os anos de 1983 e 1984, em Espera Feliz, tive três alunos memoráveis: Adelino Bocão, que, aos quatorze anos, gabava-se por ter morado numa favela perigosa do Rio de Janeiro e, principalmente, por possuir uma cicatriz de bala calibre 38 no crânio, acima da orelha esquerda; Beto Bigodinho, que não se gabava de nada, mas, como fiquei sabendo por boca de terceiros – pois ele quase não falava -, tinha lido “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, aos treze anos de idade, em menos de uma semana; e Magno Braz Ferreira de Oliveira, que, já aos treze anos, impressionava por sua habilidade de falsificar assinaturas de professores e roubar galinhas sem deixar pistas que o pudessem incriminar.

Mudei-me para Juiz de Fora.

Trinta e dois anos depois, voltei a Espera Feliz, a passeio.

Freei o carro no semáforo do cruzamento da Rua Roque Ferreira de Castro com a João Sebastião de Amorim, e um pivete noiado de crack aproveitou que a janela do carro estava aberta, encostou as lancetas de uma garrafa quebrada de cerveja em meu pescoço, gritando, como um louco, que queria a minha carteira e o meu celular. Mas, como eu o agarrei imediatamente pelo antebraço, puxei-o com tal força que bateu com o nariz na lateral do veículo, perdendo os sentidos por um instante, e tive o tirocínio de abrir a porta, pisar-lhe o pescoço e chamar a polícia, ele acabou desistindo de sua empreitada.

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Naturalmente, não ficou preso, assim como preso também não ficou o seu pai, Adelino Bocão, que, a esse tempo, achava-se condenado a quinze anos de reclusão por tráfico de drogas e assalto à mão armada, mas, por qualquer motivo tão insondável que até hoje ninguém sabe explicar ao certo, foi solto após cumprir doze dias de cadeia, mediante um alvará de soltura expedido pela Justiça, em atendimento à precisa intervenção judicial de Sua Excelência, o eminente Deputado Federal Magno Braz Ferreira de Oliveira, fato esse sobre o qual, a princípio, só se soube a boca miúda, mas que não tardou a vir a público, pois Adelino Bocão e o Deputado Federal Magno Braz Ferreira de Oliveira foram desmascarados como cabeças do crime organizado aqui das divisas do estado de Minas Gerais com o Espírito Santo, conforme se pode verificar no Capítulo 8, página 523, do livro “Mapa do Crime Organizado do Estado de Minas Gerais”, lançado pela Editora Saraiva, e de autoria do Sociólogo Dr. Roberto Álvaro Lemes, a quem – a despeito de seu vasto bigode –, por uma questão de respeito, ninguém mais o chama de Beto Bigodinho.

SOBRE O AUTOR:

José Fernandes nasceu no Rio de Janeiro, mas vive em Espera Feliz desde a infância. Professor e Psicanalista Clínico, tem 15 livros publicados no Brasil e no exterior. Ganhador de 5 prêmios literários pelo SESI Carangola-MG e é membro do CLESI – Clube de Escritores de Ipatinga-MG. No final de 2019 publicará seu novo livro “Só Se Ama Uma Vez”, tratando de relacionamentos amorosos.

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