O pátio da 41ª DP (Tanque), em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, transformou-se em abrigo para moradores do Morro da Covanca, que já sofriam com ações da milícia e agora foram expulsos de suas casas por traficantes da facção criminosa Comando Vermelho (CV). Segundo a associação de moradores da comunidade, quatro pessoas já morreram na disputa por território, e 16 famílias deixaram suas casas à força.
Segundo moradores que estão acampados em frente à delegacia, as expulsões mais recentes começaram na última quinta-feira, antes do feriado. Uma casa foi incendiada pelos bandidos. “Passei a Páscoa aqui na delegacia. Não sei o que é uma refeição decente há dias. É muita humilhação ser expulsa de casa dessa forma. Só pude pegar umas mudas de roupa e documentos”, contou uma moradora, que pediu para não ser identificada.
Ela relatou que os criminosos foram até a sua casa e a informaram de que deveria deixar o imóvel, que seria transformado numa boca de fumo. “Eles também disseram que vão usar minha casa para embalar as drogas”, completou a moradora, que, sem alternativa, deixou a Covanca com o marido e os filhos.
Uma idosa, também expulsa da comunidade pelos traficantes, disse ter recebido a ‘ordem de despejo’ através de uma ligação: “Fui informada por telefone. Eles ligaram e me disseram para não voltar. Com medo, obedeci”.
Secretária foi a primeira vítima da disputa
A guerra teria começado com a morte da secretária da associação de moradores Iara Gomes Prata, de 59 anos, em 13 de janeiro. Segundo a polícia, ela teria sido morta por traficantes com 11 tiros. No mesmo dia, uma ex-funcionária da entidade, identificada apenas como Elizabeth, 42, também foi morta. Na tarde de domingo, após a ordem para o fechamento do comércio, pelo menos 20 criminosos armados de fuzis e pistolas invadiram a comunidade e fizeram mais uma vítima: o pedreiro Lindomar Barbosa Dias, 25, foi morto com dois tiros. O corpo dele foi velado na noite de ontem e será levado para Minas Gerais, onde ocorrerá o sepultamento. Ainda ontem, muito abalados, parentes de Lindomar não quiseram comentar o assassinato do pedreiro.
Sam e Russão no comando
Segundo policiais da 41ª DP (Tanque), as investidas do tráfico têm sido frequentes no Morro da Covanca e acabaram dando certo no fim de semana. As recentes prisões de integrantes da milícia teriam favorecido o ataque. Segundo a polícia, o chefe do tráfico da área, que havia sido expulso há mais de cinco anos, é Alexsandro Rocha da Silva, o Sam da Caicó, irmão de Anderson Rocha da Silva, o Russão, que também teria participado do ataque.
PM: favela está ocupada
O tenente-coronel João de Oliveira Moraes, comandante do 18º BPM (Jacarepaguá), afirmou ontem que a favela está ocupada pela PM, que ontem apreendeu 12 motos no local. Segundo ele, em cinco meses, grande quantidade de drogas foi apreendida, e cinco menores usados pelo tráfico rodaram. Moradores no entanto, dizem que a PM destacou apenas uma viatura, que fica parada no Largo da Covanca.
Fonte: Jornal Meia Hora