Moradores de São João do Manhuaçu foram para o km 596 da BR-116 e fizeram o que o DNIT não fez em quase três anos de cobranças, reuniões e ofícios: tomaram providências e construíram quatro quebra-molas.
Não foi falta de pedirem alguma atitude por conta do órgão federal. Em dezembro de 2012, os moradores chegaram a cortar um eucalipto e fechar a rodovia por mais de dez horas. Passado mais de 15 meses e dezenas de acidentes, só algumas placas foram colocadas no trecho. A gota d´água que faltava para entornar a paciência dos moradores foi terça-feira: pai, mãe e filha morreram num grave acidente no km 596.
A medida, que alguns insistem em taxar como desrespeitosa, teve o único objetivo de evitar que mais acidentes tirem a vida de pessoas que passam pelo trecho, às vezes desavisados do perigo à frente.
QUATRO QUEBRA-MOLAS
Planejado na quarta-feira, o trabalho de construção começou cedo. Ao amanhecer desta quinta-feira, compraram um caminhão de asfalto e todos já estavam no local com enxadas, pás, bandeiras e as placas de sinalização dos quebra-molas.
Segundo Douglas Pereira da Silva, morador de São João do Manhuaçu, todas as cenas chocantes de acidentes acabaram mexendo com a sensibilidade de cada pessoa e, assim decidiram tomar a atitude de instalar os quebra molas ao longo do trecho. “Ficamos tristes com a morte do casal e a filha nesse local e, infelizmente os governantes nada fazem. Toda semana tem acidente aqui e somente placa não resolve. Isso já ficou provado. A gente espera que agora os quebra-molas resolvam de uma vez por todas esse grave problema que enfrentamos aqui”, afirma.
O Secretário de Obras de Manhuaçu, João Amâncio de Faria, esteve no local e apoiou a ideia do movimento ordeiro, especialmente pela proposta de se evitar mais mortes. Segundo ele, a manifestação dos moradores demonstra a descrença e insatisfação com o DNIT. “Todos que participaram estão dispostos a continuarem a luta para evitar que esse local continue com o rótulo de ‘trecho da morte’. Se o DNIT pressionar ou quiser retirar os quebra molas, certamente estará indo contra a população. Caso ocorra a retirada, nós voltaremos aqui e instalaremos mais quebra molas”, afirmou João Amâncio de Faria.
O proprietário rural de São João do Manhuaçu, Sebastião Miranda Barbosa “Tião Braz” conta que conhece o trecho há sessenta anos e que os acidentes se tornaram constantes.
CAMINHONEIRO
O caminhoneiro Ronivaldo Alves Fernandes reclamou da fila que foi gerada e o congestionamento na estrada, em véspera de feriado. Segundo ele, já passou da hora de privatizarem a BR-116 para evitar os acidentes constantes e “sem a necessidade dos moradores tomarem atitude numa situação que é de responsabilidade do DNIT”.
O Policial Rodoviário Federal Carvalho informou que o ato dos moradores foi comunicado ao DNIT tão logo souberam do início da obra, na manhã desta quinta-feira. Ele admitiu que os inúmeros acidentes no local são de conhecimento geral, inclusive do DNIT.
Segundo o policial, como não havia alerta antes, houve pessoas que pensaram que eram funcionários do DNIT. “Pela manhã, eles chegaram no local de coletes, pás, enxadas, dando a entender que eram funcionários de alguma empreiteira contratada pelo DNIT. Para os usuários da rodovia, eles estavam instalando quebra-molas obedecendo aos critérios legais e, de acordo com as normas de trânsito”, disse Carvalho.
Alguns dos manifestantes já alertaram que não admitem a retirada dos quebra-molas, a exemplo do que aconteceu nas comunidades de Vilanova, São Pedro do Avaí, Dom Corrêa e Santa Rita de Minas, também na BR-116, onde os moradores também fizeram quebra-molas por conta própria e os números de acidentes reduziram drasticamente.
Fonte: Portal Caparaó