PASSO FUNDO (RS) – 69 dias e 2.300 quilômetros depois, o grupo de 20 cavaleiros dos Cowboys Amigos chegou a Passo Fundo (RS) na manhã de sábado, dia 11 de maio. A aventura começou em Espera Feliz, atravessou Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul. A recepção foi marcada pelas festas e tradições gaúchas.
A história desta cavalgada começou com um convite do cavaleiro Antônio Xavier aos amigos numa noite de 1999. O grupo assumiu o compromisso de fazer uma cavalgada de Espera Feliz até o interior de São Paulo e, de lá, seguir até o Rio Grande do Sul pela mesma rota que os tropeiros percorriam no Brasil colonial. A promessa demorou a ser cumprida e só 14 anos depois o grupo foi para a estrada, em março deste ano. A trupe, denominada de “Cowboys Amigos”, chegou muito bem ao destino final Passo Fundo.
No dia em que a ideia nasceu, os amigos mineiros estavam em Nova Lacerda (MT) descansando no intervalo de uma outra cavalgada, entre Espera Feliz e Humaitá, no Amazonas. A distância de mais de 2 mil quilômetros entre a terra dos cavaleiros e Passo Fundo (RS) não pareceu muito assustadora para quem, até aquela noite, já tinha andado 2,5 mil quilômetros em lombos de cavalos e muares (cruzamento de égua e jumento). Marcada para 2003, a saga dos “novos tropeiros” acabou não ocorrendo devido à indisponibilidade de alguns dos integrantes do grupo.
Passados dez anos desde a primeira data, os 20 companheiros – que moram em 15 cidades da região de Espera Feliz – conseguiram reservar dois meses dos seus calendários só para a longa viagem.
40 QUILÔMETROS POR DIA
Havia uma estrutura de apoio com seis pessoas. O pernoite sempre foi bem simples: parte deles dormia num ônibus, outros no caminhão e alguns em barracas. Ao raiar do sol, logo eles desarmavam o acampamento e cavalgavam, em média, de 40 a 45 quilômetros por dia. Dos 39 animais da tropa, 31 eram muares e oito eram cavalos. Cada animal participou de um dia da cavalgada e, no dia seguinte, seguia de caminhão, respeitando um rodízio. “Cavalgar ajuda a tirar o nosso estresse. A gente se preocupa com os animais, claro, mas os problemas do dia a dia ficam para trás. Fizemos um monte de amizades pelo caminho e, aos poucos, fomos construindo um mundo diferente”, afirma Antônio Xavier, que idealizou a cavalgada.
Num grupo em que a maior parte dos integrantes tem entre 30 e 50 anos, Antônio comemorou a participação do amigo Amílcar Pacheco, de 82 anos, morador de Manhuaçu. Ele foi um dos parceiros de Antônio na cavalgada até Humaitá em 1999. “É tão gratificante que eu tomei a decisão de vir. Cavalgada é pura cultura. Fazemos uma oração toda manhã e aprendemos a conviver em grupo”, ressalta o experiente cavaleiro Amilcar Pacheco.
PERCURSO EM 62 CIDADES
Em fevereiro deste ano, o cavaleiro Antônio da Costa Filho, também de Espera Feliz, percorreu todo o trajeto de carro para elaborar o roteiro. “Fui fazendo amizade com cavaleiros e fazendeiros que se prontificaram a oferecer pouso a cada noite”, conta. Os 2.300 quilômetros da expedição envolveram 17 cidades de Minas Gerais, seis do Rio de Janeiro, 22 de São Paulo, nove do Paraná, quatro de Santa Catarina e quatro do Rio Grande do Sul.
A chegada do grupo aconteceu na manhã de sábado (11) e contou com a recepção dos Cavaleiros do Mercosul e diversas autoridades de Passo Fundo. Em tom de festa os cavaleiros se dirigiram ao parque de Rodeios da Roselândia onde passaram todo o sábado.
Antônio Xavier explicou que a viajem foi difícil, mas muito gratificante. Passo Fundo foi escolhida como destino pelo interesse dos tradicionalistas locais quando foi feito um contato no passado. Ele explica que a hospitalidade encontrada lá foi o grande prêmio de toda a viagem.
GUIADOS POR UMA RÉGUA AO AMAZONAS
A primeira aventura dos Cowboys Amigos ficou conhecida em toda a região. Em 1999, Antônio Xavier convidou alguns amigos para cavalgar de Espera Feliz até Ariquemes (RO), onde morava uma filha que queria visitar. “Uma vez, bem antes da viagem, o Antônio me convidou, mas eu achei que ele estava de brincadeira. Mas era verdade”, lembra o colega de cavalgada Amílcar Pacheco.
Na hora de definir o roteiro no mapa, a ponta da régua encostou em Humaitá (AM), que fica 500 quilômetros para frente de Ariquemes. Daí veio a ideia de seguir até “o final da régua”. “Passamos dois dias em Ariquemes e, em 5 de agosto, finalmente, chegamos a Humaitá”, diz Amílcar.
Segundo ele, aquela viagem foi pouco confortável, mas marcou a história da sua vida. Há 25 anos, os Cowboys Amigos também fazem uma cavalgada – na segunda quinzena de janeiro – entre Espera Feliz e Guarapari (Litoral do ES), um percurso de aproximadamente 250 quilômetros. O grupo é formado, em sua maioria por cafeicultores que têm a cavalgada como lazer. Em todas as viagens, eles procuram seguir por estradas rurais e fazendas, evitando as rodovias sempre que possível.
Os participantes e equipe de apoio foram: Antônio Xavier Filho (Toe do Lico); Antônio da Costa Filho (Toizinho); Amilcar Pacheco; Alício Falqueto; Alexandre Freitas; Jorge Célio Salgado; José Leite; Cláudio José; Nilton; Elder; Vicente; Gilson Faria; Heroni; Randolfo; José Antônio; José do Juca; Sérgio de Souza; Mauro; Chico Perigola; Sonia; Mateus; Rogério; Adão Pereira; e Danilo.
Com informações de Derek Kubaski / Gazeta do Povo e Rádio Uirapuru – Fotos Divulgação