Eu preciso que você me ame na intensidade das cores das flores do campo. Eu quero que você me ame na velocidade das máquinas e motores em trânsito. Preciso que você me ame sob o sol orvalhado pulverizando a chuva. Quero que você me ame nos dias nublados de tardes turvas. Preciso que você me ame xingando nomes que jamais ouvi. Quero que você me ame gesticulando carinhos que nunca fiz. Preciso que você me ame lavando o chão e a louça da pia. Quero que você me ame enquanto depila suas pernas e virilhas. Preciso que você me amenos sonhos loucos em que galopa. Quero que você me ame nas madrugadas longas ouvindo bossa. Preciso que você me ame no silêncio que tem o olhar das gueixas. Quero que você me ame nos recados que deixa colados na geladeira. Preciso que você me ame com os olhos cheios de ódio e de sangue. Quero que você me ame com os mesmos olhos cheios de charme. Preciso que você me ame de um jeito inédito, selvagem. Quero que você me ame de um jeito bobo, assim e assado. Preciso que você me ame cheirando a álcool, suor e cigarros. Quero que você me ame no perfume que usa misturado ao seu hálito. Preciso que você me ame repetindo versos que o tempo apagou. Quero que você me ame assistindo a filmes que o vento levou. Preciso que você me ame com a nobreza que tem o coração das putas. Quero que você me ame com pensamentos perversos que amélias ocultam. Preciso que você me ame com a mesma verdade quando finge prazer. Quero que você me ame com a mesma mentira quando desprezo você.
Mas o que eu preciso de uma vez por todas e em toda parte é que você me ame. E o resto… Bem, o resto eu quero que se dane!
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(Baseado no texto “Poema da necessidade”, de Carlos Drummond de Andrade.)
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Farley Rocha, fã do Radiohead e do Seu Madruga, nasceu em 1982 e mora na cidade de Espera Feliz, interior de Minas. Professor por formação e poeta por obsessão, mantém o blog palavraleste.blogspot.com, espaço aonde publica seus textos e outras insanidades literárias.