Pico da Bandeira

À moçada do Mochileiros.com Nos tempos antigos antecessores a tudo que conhecemos – teorizam geólogos –, quando a Terra borbulhava por todos os lados em lavas e flamas de explosão, mal poderia imaginar o homem de bilhênios seguintes que no fundo do Brasil um cenário extraordinário surgiria de tal catastrófica evolução: a Serra do Caparaó […]

Publicado em 12/04/2012 - 01:08    |    Última atualização: 12/04/2012 - 01:08
 

À moçada do Mochileiros.com

Nos tempos antigos antecessores a tudo que conhecemos – teorizam geólogos –, quando a Terra borbulhava por todos os lados em lavas e flamas de explosão, mal poderia imaginar o homem de bilhênios seguintes que no fundo do Brasil um cenário extraordinário surgiria de tal catastrófica evolução: a Serra do Caparaó e suas protuberâncias rochosas.

No Parque Nacional do Caparaó, divisa de Minas com Espírito Santo, é onde se abrigam três dos dez maiores picos em território brasileiro, sendo o Pico da Bandeira o terceiro mais alto do país (2.892m.).

Do ponto mais íngreme a que se pode chegar do maciço, avista-se abaixo, num círculo horizontal,cerca de 600 quilômetros de raio do planeta todo pontilhado pelo bico das montanhas pequenas, como se centenas de arquipélagos esverdeados flutuassem num oceano de nuvens e serração. Lá em cima não chega a nevar como nos Andes, mas o frio é glaciar como em qualquer outro lugar de extremidades.

A partir do topo do Pico, espigões de rocha desdobram-se em cordilheiras perpendiculares a desfiladeiros e vales, dando origem a rios e acidentes geográficos por onde ao longo moram (moramos) os montanheses do lado de cá do estado. Cidades, vilas, lampiões e chaminés acendem estrelas pelas noites frias de suas encostas.

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No passado, enquanto praças cosmopolitas da Califórnia pintavam as cores da contracultura na década de sessenta, por aqui pouco mais de uma dúzia de barbados proclamava a guerrilha rural contra o golpe e os militares – revolucionários de uma “Sierra Maestra” que não deu certo, mas que deixaram história.

Já nos dias de hoje, portais de acesso que levam às entranhas do Parque sãocruzados todos os anos por turistas que vêm de longe, paramentados com botas crivadas em borracha, mochila cargueira, comida enlatada e cachecóis e gorros. Caminham trilhas escarpadas rumo ao topo dos montes como se, por algum instinto invisível, estivessem buscando a verdade dos céus – feito os apreciadores da Torre de Babel, das Pirâmides do Egito e da engenharia mística de Machu Picchu.

Assim, os que escalam as montanhas do Caparaó devem partilhar do mesmo fascínio de quem deseja tocar o infinito, ou ver os olhos de Deus ou contemplar a vertiginosa ideia de que o limite entre o nada e o chão é a estrutura do próprio corpo.

Ao amanhecer, os que aguardam o dia raiar pela perspectiva do pico, monges aventureiros portando iPod’s e câmeras digitais, testemunham a parte do mundo que já é dia empurrar com monstruosa beleza a sombra do mundo na parte que ainda é noite – num dramático duelo entre sol e lua disputando na força cada centímetro de céu.

E esse o maior prêmio a quem alcança o coração das montanhas do leste, no fundo do Brasil, quase no topo do mundo.

 

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Farley Rocha, fã do Radiohead e do Seu Madruga, nasceu em 1982 e mora na cidade de Espera Feliz, interior de Minas. Professor por formação e poeta por obsessão, mantém o blog palavraleste.blogspot.com, espaço aonde publica seus textos e outras insanidades literárias.


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