Pois bem, acabou a festa mais popular do planeta e o ano (no Brasil) de fato se inicia.
A cultura é tão forte em nosso país que é capaz de moldar (ou “desmoldar”) pilares sólidos como o calendário anual cristão. E como compreender melhor esse fenômeno? A geografia traz algumas contribuições para esse debate ao abordar a relação entre espaço, sociedade e turismo.
Auxiliado pela abordagem de Pearce (2003), renomado autor das relações espaciais e sociais, a “geografia do turismo é a vertente que se interessa pelo exame da dinâmica turística nas diversas regiões do planeta”. Abrange a compreensão das alterações de infraestrutura, no modo de vida: aspectos culturais positivos e negativos e impactos ambientais.
O turismo é uma atividade de dimensões globais. Não se trata de uma novidade. Com a aceleração do fluxo de informações e movimentação de pessoas essa atividade tente a se ampliar. Atualmente, a atividade turística é um dos setores mais importantes da economia mundial. Afinal, consegue dinamizá-la ao empregar mão-de-obra e gerar divisas para vários países e regiões. De acordo com dados da Organização Mundial do Turismo (OMT), “a receita cambial gerada pelo turismo no mundo referente ao ano de 2006 está na ordem dos 723 bilhões de dólares.”
Podemos perceber que o turismo traz vantagens para variados segmentos sociais. Repartições públicas, empresas privadas, e nós mesmos, em nosso cotidiano, estamos relacionados ao Carnaval. Há ainda segmentos sociais que tratam o carnaval como desperdício de dinheiro e de capacidade criativa do povo brasileiro. Será mesmo? Segundo o Ministério do Turismo (2012), o Brasil movimentou valores aproximados de R$ 5,5 bilhões transações realizadas em função desse evento festivo.
Esse número de aproximadamente 5,5 bilhões de reais foi calculado com base nas quatro cidades mais movimentadas durante os festejos do carnaval, duas na região Sudeste (Rio de Janeiro e São Paulo) e duas na região Nordeste (Recife e Salvador). São dados de espaços urbanos distintos da nossa realidade regional, porém úteis a fim de dimensionarmos o fenômeno carnaval em diferentes escalas espaciais até chegarmos às nossas cidades de menor porte, porém de grande relevância em seus contextos estaduais.
No seminário “Samba como economia da cultura”, na cidade do Rio de Janeiro, o ex-presidente do BNDES, economista Carlos Lessa, afirma que “Não há como negar a relevância do Carnaval para a economia. Só as escolas do grupo especial do Rio geram mais empregos e renda do que muita empresa.”. Lessa compara a produção das escolas de samba do Rio de Janeiro ao regime de trabalho de grandes corporações, fazendo da Cidade do Samba (grupo de galpões de produção das escolas do grupo especial), “A Cidade do Samba é o lugar onde uma estrutura quase empresarial planeja e implementa uma sequência de tarefas complexas e encadeadas”, disse o economista, embasando-se na projeção das 13 escolas do grupo especial Carioca que prevê anualmente um investimento entre R$ 5 milhões e R$ 7 milhões (PORTAL VERMELHO, 2012).
A indústria do Carnaval Carioca movimenta uma cadeia econômica desde os fornecedores de matérias-primas básicas à mão de obra que é capacitada e qualificada para a linha de produção na Cidade do Samba. Cerca de 500 mil pessoas são contratadas durante o carnaval. Fora os empregos fixos da industria do samba.
No estudo “Cadeia Produtiva do Carnaval” (2009) do pesquisador Luiz Carlos Prestes Filhos, diz que “Trata-se da fabricação, forçando a analogia, de um entretenimento”, e ainda afirma que “Emoção e encantamento são, de fato, o produto final procurado pelo consumidor. O estudo calcula (na época) um movimento de R$ 700 milhões no Carnaval do Rio. A RIOTUR, organizadora do Carnaval Carioca estima em US$ 628 milhões durante os festejos de carnaval em 2012, ou seja, aproximadamente R$ 1,1 Bilhão. A cidade do Rio de Janeiro recebeu cerca de 850 mil turistas para o Carnaval.
Através da observação e analise possibilista podemos supor que o comércio local também lucra bastante com o carnaval. Em Dores do Rio Preto, região do Caparaó Capixaba/ES, por exemplo, pousadas e hospedaria ficam sempre lotadas. Já temos famílias que alugam suas casas para durante o carnaval. Sem contar um fato que merece atenção de órgãos competentes e de nós, estudantes da área da geografia, que são a quantidade de famílias que recebem amigos durante o carnaval. O fluxo turístico é grande, e isso acelera a rotatividade econômica no comércio local.
Então, sim! Carnaval é um negocio e tanto! E como qualquer negócio exige planejamento e organização por parte de uma equipe com experiência em eventos desse porte.
por:
Hudson Giovanni
Colaboração do Professor Msc. Evandro Klen Panquestor,
doutorando em Geografia – UFF,
Coordenador do Curso de Geografia da FAVALE/UEMG.
REFERÊNCIAS DOS DADOS CONTIDOS NA COLUNA:
MINISTERIO DO TURISMO. Seis milhões de viagens no carnaval. Disponível em <http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/dadosefatos/geral_interna/noticias/ detalhe/20120206-1.html> Acesso em 23 de fevereiro de 2012
PEARCE, D. Geografia do Turismo: Fluxos e regiões no mercado de viagem. São Paulo: Aleph, 2003.
PORTAL VERMELHO. Em 4 dias carnaval movimenta R$2,7 bilhões. Disponível em <http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=2&id _noticia=176142>. Acesso em 23 de fevereiro de 2012
PRESTES FILHO, L. C (coord.). Cadeia produtiva da economia do carnaval. Disponível em <http://www.fundaj.gov.br/geral/ascom/economia/economia _carnaval.pdf> Acesso em 24 de fevereiro de 2012.