A mulher que se ama

A mulher que se ama não é passivamente escolhida pelo olhar bandido no meio da multidão. É ela, no meio da multidão dos olhares perdidos, que se deixa ser “escolhida”. A mulher que se ama, quando assim percebida, reage em rajadas de flores invisíveis só de mexer nos cabelos – ou de pedras, caso vire […]

Publicado em 19/01/2012 - 09:06    |    Última atualização: 19/01/2012 - 09:06
 

A mulher que se ama não é passivamente escolhida pelo olhar bandido no meio da multidão. É ela, no meio da multidão dos olhares perdidos, que se deixa ser “escolhida”. A mulher que se ama, quando assim percebida, reage em rajadas de flores invisíveis só de mexer nos cabelos – ou de pedras, caso vire o rosto. A mulher que se ama, quando se encanta na situação de um flerte, vai se permitindo aos poucos, a conta-gotas, porque sabe que no contorno de um sorriso é onde guarda seu melhor trunfo. Apesar disso, a mulher que se ama, perfeita nos assuntos de amor e conquista, termina caindo na própria armadilha quando deixa transparecer na sinceridade dos olhos, lábios, nuca, orelha, ombros e quadril o que sua boca já nem precisa mais pronunciar.

É porque quando a mulher que se ama está amando, ama de alma, de coração e ama de corpo inteiro, como se no movimentar de suas curvas revelasse seus mínimos segredos.

Uma vez enamorada, a mulher que se ama, consciente do seu gesto de amar e ser amada, sente-se para sempre responsável por cativar seu homem, tendo que domesticar um bicho por natureza desvirtuado de sensibilidade e educá-lo, como todo bom homem que sirva (para ela) deve ser. Assim, ensina-lhe que dormir oito horas por dia e beber água diariamente faz bem à saúde; que barbear-se e aparar os cabelos também são hábitos de higiene; que ambição não é pecado e que acomodar-se na vida é o mesmo que se apagar por dentro; que dizer “bom dia” é sempre um ato de gentileza e generosidade, ainda que se acorde ao lado de quem não lhe disse “boa noite”; ensina-lhe que não há nada de errado se homem lavar os pratos da pia e que o box serve justamente para não respingar o resto do banheiro; que ser pontual também é demonstração de respeito e que diálogo só pode ser feito de comum acordo, nunca por imposição; que fazer surpresas é renovar o ciclo de carinho e que tpm não é, e jamais será, caso de insanidade. E, sobretudo, ela o ensina, com suas magistrais paciência e persistência de mulher que se ama, que fazer amor (embora muitos achamos) não é sinônimo de fazer sexo.

É porque para a mulher que se ama, o amor se faz antes, durante e depois, numa sucessão atemporal de afeto e cumplicidade que, se assim (e só assim) for, o sexo poderá durar horas, dias, meses, uma vida inteira.

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Quanto a nós, homens que lançam olhares bandidos no meio da multidão, continuamos fazendo nossas juras de amor patéticas e resmungando por atenção e carinho – sem darmos conta que para merecer a mulher “escolhida” nos basta amá-la, tanto ou mais do que ela mesma se ama.


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