O chapéu

Na frente da prefeitura, o vendedor de chapéu não era só negociante. Era filósofo também.

Publicado em 02/06/2020 - 14:36    |    Última atualização: 02/06/2020 - 14:36
 

A cidade tinha um nome engraçado, ninguém entendia muito bem. Sempre precisava repetir:

— Espera o que?

— Espera Feliz! 

Depois de entenderem, emendavam: — Então todo mundo que vive lá é feliz?!

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Dos que conheço, tem a senhora que vai à missa todo domingo. Tem moça que nasceu lá, foi pra cidade grande e agora é de fora. Tem a menina que é do mundo, adora dizer que tá lá só de passagem, mas é aonde, de verdade, chama de lar. E tem o vendedor de chapéu. Todos bem felizes!

Na frente da prefeitura, o vendedor de chapéu não era só negociante. Era filósofo também. Conhecia todo mundo. Falava sobre todos os assuntos. Compartilhava sabedoria. De todas as suas histórias, a que mais gostava era a do homem com cinco mulheres.

Virou um ícone. Era quem ele quisesse ser: sábio, galante, conselheiro, contador de caso. Tinha vários personagens. O vendedor de chapéu era o que as três tinham em comum.

Em um domingo, depois da missa, na calçada da prefeitura, ele encontrou com a senhora, com a moça e com a menina. Entregou-lhes uma caixa. Dentro tinha um chapéu e um bilhete escrito no papel de pão: “Se você sente falta da felicidade então você é feliz, porque a gente não sente falta do que nunca teve. Usem o chapéu para proteger do sol e lembrar de mim”.

Elas seguiram. E, na frente da prefeitura, o vendedor passou a contar uma nova história: a do chapéu que foi feliz mundo a fora.


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