Este é um artigo ou crônica pessoal de Paulo Faria.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.
O Brasil, nos últimos anos, foi acometido por uma onda desilusão crescente na política. À exceção de certos militantes que geralmente militam em um ou outro partido em prol de causas próprias, o brasileiro, no geral, está decepcionado com a política. Basta ver a quantidade de votos brancos e nulos no ano de 2010.
Mas chegamos em 2014. Os céticos mais uma vez desconfiam do blá blá blá que inunda o horário eleitoral, e têm razão pra desconfiar. Nesse cenário, surge Marina Silva.
Mas quem é Marina Silva?
Alfabetizada aos 16 anos, Marina Silva é Historiadora, professora, psicopedagoga, ambientalista. Foi vereadora, senadora e ocupou o cargo de ministra do meio ambiente no primeiro mandato do governo Lula. Foi candidata à presidência da república em 2010 e ficou em terceiro lugar obtendo a marca de 19 milhões de votos. Pegou todos os institutos de pesquisa “com a calça na mão” que tentaram depois explicar o porquê da não detecção desses eleitores da candidata, à época filiada ao PV (Partido Verde). Candidata essa que tinha magníficos 23 segundos e 22 centésimos de tempo na TV contra duas potencias eleitorais: PT e PSDB. Os institutos não precisam explicar. Eu explico.
Em 2010 Marina surgira como uma espécie de figura-símbolo o qual representava as pessoas honestas, trabalhadoras, que pagam impostos e que estão cansadas de serem extorquidas pelo roubo oficial, pelo descaso, pela mentira, pelo desmando dos mesmos ratos políticos que nos últimos anos estão aí nos sugando como parasitas. Pessoas como eu e você: decentes e que almejam apenas um país mais justo.
Nestas eleições, eis que novamente surge Marina como um furacão remexendo no panorama político, que antes de Eduardo Campos falecer, estava como certo a vitória do PT (talvez até no primeiro turno). Ponderada e consciente, ela representa novamente aqueles mesmo indivíduos que sonham com uma mudança de verdade. Dando uma espiada em seus discursos, parece realmente que a candidata está imbuída de um espírito de transformação; mesmo sabendo dos riscos da não governabilidade que ela enfrentará caso eleita, pois temos um congresso canceroso, falido, que a derrubará na primeira oportunidade caso ela não queira fazer parte do jogo sujo. E é isso que o mais impressiona na Marina: Sem abrir mão de suas convicções, ela teima em discorrer sobre uma ruptura total com o fisiologismo; tenta querer irromper com os velhos vícios que há anos só joga o Brasil pra trás: Uma personificação ou pelo menos uma tentativa de personificação dos ideais republicanos de honestidade.
E não é só no discurso que Marina impressiona pelo radicalismo romântico: Um dos acordos pra ela ser vice na chapa de Eduardo Campos foi a de não “subir nos palanques regionais onde também estariam velhas figuras do PT e PSDB”. Com a morte de Campos, nada mudou. Ela segue firme com o prometido.
É a primeira vez em 12 anos que há uma chance real de o partido que estar no poder perder as eleições. Por isso, a oposição tem jogado sujo usando sua máquina de destruir reputações atacando a candidata de todas as formas. O negocio é tocar o terror, não importa como. Já que não conseguem falar de seu passado, tentam intimidar os eleitores falando de um possível futuro com a Marina no Planalto. Especulação baixa e daninha que só atrapalha a democracia. Mas para o PT, o partido que ao longo desses anos criou um projeto de poder e não de governo, parece não saber muito o significado dessa palavra. Acuado, o partido parte pra cima abrindo mão de qualquer traço ético. É a luta do poder pelo poder.
Mas como nem tudo são flores, o terror tem feito sim efeito. Basta conversar com amigos no trabalho, na rua, na faculdade, que é possível perceber o “perigo-teocrático-verde” que a candidata oferece aos pais de família, católicos, donas de casa, universitários, proprietários rurais e etc.. Pura bobagem. Na verdade, nas pior das hipóteses, Marina nos oferece o benefício da dúvida, o que convenhamos, na situação que nos encontramos é bem melhor que a certeza de 12 anos.
É fato que Marina Silva ainda não tem um projeto de governo definido. Ela diz querer romper com a velha política e criar uma nova, nunca deixando claro por onde começar. Ela é sonhática demais, é fato. Como um cético, tenho certeza, que caso eleita, Marina enfrentará sérios problemas para governar, isso se seu governo não for um desastre total. Como ela não é nenhuma divindade e é também corruptível e passível de erros, eu poderei estar escrevendo daqui a quatro anos “Porque eu NÃO voto em Marina”. Claro que posso. Mas por que não acreditar em uma ruptura definitiva com “tudo isso que aí está”, mesmo que isso pareça romântico demais?
Às vezes o que dá combustível à vida é poder ainda acreditar em certas utopias, mesmo sabendo que acreditar em utopias anda fora de moda. Eu canto o coro dos descontentes e prefiro acreditar.
Paulo Faria é um amante do cinema de horror e rock ‘n’ roll. É professor por formação, humorista por conveniência e escritor por aspiração.