Este é um artigo ou crônica pessoal de Paulo Faria.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.
Rock, o estilo de música mais ouvido no mundo. Quando, nos anos 50, Chuck Berry empunhou sua guitarra e Elvis Presley começou a requebrar pra lá e pra cá, os sujeitos possivelmente não tinham a dimensão que o negócio ($$$) iria se tornar.
Dos Estados Unidos e Inglaterra para o resto do mundo, o estilo (ou melhor dizendo, essa religião), se difundiu e virou trilha sonora da juventude. No Brasil, nos anos 80, havia até um embate entre artistas de rock versus os de MPB. Os primeiros acusavam os segundos de criar algo esteticamente “pobre” ao passo que os artistas de rock acusavam a MPB de fazer música “pra velho”, rebuscado e chato.
No espaço de 40 anos o rock predominou de forma unânime no show business. Bandas como KISS e Van Halen, por exemplo, ostentavam sua glória de forma incontestável. Eles podiam, quando quisessem (e ainda podem!), enrolar “unzinho” numa nota de 100 dólares ou explodir uma limusine.
Mas como tudo nessa vida nada dura para sempre, chegou o momento da ressaca, e a partir de então começou a surgir grupelhos pop de gosto duvidoso invadindo a MTV e as mentes dos desavisados. Foi nesse período que jornalistas mais desavisados ainda começaram a decretar “o fim” do rock. Muitos desses jornalistas (ou empresários com interesses escusos) insistiam em dizer que o rock havia morrido – mas esqueceram de avisar aos fãs sobre o local e o horário do enterro. No frigir dos ovos o rock nunca morreu e nunca precisou ser “salvo” como também muito se insistia na época. O exemplo são os grandes medalhões do rock ‘n’ roll como AC/DC, Metallica, Iron Maiden, U2, Rolings Stones, etc. que ainda gravam discos, lotam estádios e estão rasgando dinheiro; sem ter que aparecer na TV ou em revistas de fofoca.
E o rock no Brasil, hoje?
Pois é, como tudo aqui neste país é uma desgraça – e quando se fala em “tudo”, isso quer dizer que é praticamente tudo mesmo – o rock vai bem mal das pernas. E não é pela falta de bandas, pelo contrário; bons grupos temos aos montes e a maioria faz som de qualidade irrepreensível, desde o punk ao heavy metal. O que aconteceu foi que nos últimos anos o gosto musical do brasileiro mudou radicalmente, e com a falta de apoio do público, da mídia, de empresários, do setor político e tudo mais, os grupos de rock acabam encerrando suas atividades ou os que sobram acabam tocando em inferninhos só por diversão ou por cachaça (ou por ambos).
Recentemente, a revista Época fez uma matéria falando justamente sobre o gosto musical do brasileiro, baseado numa pesquisa realizada pelo Instituto Ibope no espaço de dois anos. A conclusão: O rock é o estilo ouvido por uma parcela ínfima da população brasileira hoje. O sertanejo universitário, o funk, o gospel, o forró, e outros trocentos estilos é que dominam as paradas e a cabeça do povão (leia a matéria completa aqui). Enfim, o rock no Brasil virou artigo “cult”, direcionado apenas a certos apreciadores; geralmente àquela galera “das antigas”. Tanto que o que sustenta ainda o estilo no Brasil é o povo das antigas como Capital Inicial, Biquini Cavadão e mais meia-dúzia de heróis da resistência. O rock virou algo estranho e indiferente aos ouvidos da massa. Muitos associam o estilo a algo barulhento e outros nem são capazes de distinguir a estrutura musical que caracteriza o rock. Foi como certa vez disse Dado Villa Lobos (lendário guitarrista da Legião Urbana) quando perguntado num programa de TV sobre onde está o rock no Brasil. Disse ele: “O rock está em algum lugar; só não está nas revistas, na TV e nem no rádio. Mas está em algum lugar”.
É tão perceptível que o rock no Brasil está fadigado, que a prova disso são os eventos que, quando acontecem, geralmente dão prejuízo ou não dão público. Aqui na nossa região existem vários exemplos de eventos de rock que embora estivessem bem estruturados e outros até com presença de bandas que tocaram no exterior, deixaram a desejar em participação de público. Não há mais aquela militância da galera em prol do rock ‘n’ roll. Não há mais aquela histeria coletiva ou ansiedade quando surge um anúncio de algum show de rock como acontecia há tempos atrás. Não há mais aquele lirismo de outrora quando a galera se juntava dentro de um ônibus pra ir assistir aquela bandinha de garagem que ninguém conhece.
O 7° Encontro de Motociclistas Falcões da Montanha, ocorrido em Espera Feliz, é o exemplo mais cabal do que está se falando aqui. Para que o evento acontecesse perfeitamente houve uma sociedade entre um empresário do ramo artístico e os motociclistas idealizadores do encontro. Ficou acertado nessa sociedade que dois dias seriam dedicados exclusivamente ao público roqueiro, com bandas hiperprofissionais e tudo mais. No terceiro dia, tocaria um artista popular, nesse caso, Beto kauê, pois pela visão do empresário (visão correta, inclusive), o artista popular atrairia mais gente para o evento e não haveria um possível prejuízo. Ou seja, teve de haver uma “prostituição” em um evento teoricamente direcionado a um público roqueiro para que não houvesse risco de prejuízo.
Nos dias “de rock”, o que se viu próximo ao palco foi um público reduzido, geralmente formado por trintões ou quarentões cantando os grandes clássicos junto com as bandas, e na parte de trás do parque diversas pessoas olhando com ar de indiferença pro “barulho” advindo dos PA’s. No dia “popular”, em compensação, a galera compareceu em peso cantando, dançando e mostrando toda sua ginga.
Infelizmente, o rock no Brasil se tornou indiferente, estranho, démodé, e é metaforicamente possível afirmar: O Beto Kauê venceu.
Paulo Faria é um amante do cinema de horror e rock ‘n’ roll. É professor por formação, humorista por conveniência e escritor por aspiração.