Farley Rocha

Este é um artigo ou crônica pessoal de Farley Rocha.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.

Qúestão de ponderação, tá oquêi?

Ao contrário do que muitos pensam, haverá sim um amanhã, para mim, para você e para todos nós. Seja com ou sem #ele.

Publicado em 18/10/2018 - 17:31    |    Última atualização: 18/10/2018 - 17:32
 

Cena do filme ‘The Wall’, da banda Pink Floyd.

Antes que venham pedradas estilhaçarem estas palavras mal escritas, advirto: não! esta crônica não é sobre política! É sobre o direito de ser o que se é, de dizer o que quiser, de se vestir como convier, de pensar o que melhor lhe couber. E neste ponto é que temos tolhida nossa adulterada e já questionável liberdade. Não por políticos A (de Haddad?) ou B (de Bolsonaro). Mas por nós mesmos, cidadãos de uma dita d-e-m-o-c-r-a-c-i-a.

Desde que os tempos se tornaram acirrados, com gente bloqueando gente e desferindo esculachos gratuitos nas redes sociais, fico observando a movimentação agressiva das massas e tentando entender como viemos parar neste caos de desavenças partidárias e artilharias argumentativas, no qual aquele que afirma estar certo age com a mesma estupidez do outro que não admite ser o errado.

E nestes conflitos de porradas virtuais, muito mais do que narizes e supercílios sangrando, saímos é com a alma dilacerada, vitimados por insultos e pancadas verbais vindos de todos os lados ao expormos qualquer opinião a favor ou contra. Então, fico a me perguntar: quando o gongo soar (se soar), conseguiremos juntar novamente nossos cacos?

É provável que sim. Afinal, nossa condição humana nos faz fortes, e nos recompor não é um direito, mas uma obrigação. Porém, marcas e cicatrizes ficarão latentes por muito tempo em nossas relações e servirão para nos lembrar que um dia, por motivos que não podemos compreender agora, tivemos a pobreza de espírito de xingar um irmão, gritar com um amigo, esbravejar com um estranho, rachar uma nação inteira por causa de duas míseras hashtags de ordem: #elesim X #elenao.

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A exemplo contrário, venho conversando muito com meu amigo Paulo Faria que, mesmo pensando completamente o oposto, conseguimos, por via de regra, debater ideias e posicionamentos com uma sobriedade tal que, ao terminarmos nossas defesas e acusações via WhatsApp ou Facebook, sempre nos convidamos a tomar uma cerveja para falarmos sobre o tempo, trabalho e trivialidades da vida habitual.

Paulo faz parte do #elesim, e como ele é um dedicado estudioso das causas anti-esquerdistas, procuro enxergar a situação política pelo viés de seus argumentos. Às vezes compreendo suas razões, mas quase sempre discordo de seus motivos. É que minha posição de natureza esquerdista (e, para que não haja equívocos, aqui ressalto em letras garrafais: NÃO sou pró-comunismo, NÃO sou pró-socialismo, NÃO sou pró-gramiscismo), obriga-me a olhar os fenômenos destas eleições por lentes que ultrapassam a dimensão política.

Neste caso meu esquerdismo está mais voltado para questões humanitárias, respeito às diversidades, liberdade de expressão, capacidade de diálogo, sustentabilidade, pensamento libertário, amor e compaixão etc. Como não podia ser diferente, meu amigo Paulo também compreende minhas razões, mas discorda completamente dos meus motivos.

O fato é que Paulo e eu, embora politicamente nos olhemos a uma distância quilométrica, miramos o futuro pelo mesmo binóculo dos justos: o de um país melhor para todos, independente para quais hashtags fazemos campanha. E de todas as nossas conversas, esta direção é o que mais importa.

De qualquer modo, da minha atual condição de foco de resistência, lamento que o candidato de Paulo, em suas falas carregadas de brutalidade e truculência, não seja capaz de proferir aquela bonita frase que a maioria de nós humanistas gostaríamos de ouvir: “todo debate é qúestão de ponderação, tá oquêi?”

Mas a vida segue. E, ao contrário do que muitos pensam, haverá sim um amanhã, para mim, para você e para todos nós. Seja com ou sem #ele.

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Por Farley Rocha.

Sobre Farley Rocha

Farley Rocha é professor, fã do Radiohead e do Seu Madruga. Já plantou uma árvore, escreveu um livro e edita o blog http://palavraleste.blogspot.com


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