Farley Rocha

Este é um artigo ou crônica pessoal de Farley Rocha.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.

Onde o mundo acontece

Não importa se à luz de neon dum pub irlandês ou no balcão do botequim do Paulo Simiqueli.

Publicado em 23/02/2014 - 20:22    |    Última atualização: 23/02/2014 - 20:22
 

0c5110308e0d11e389640e102d0902b2_8Além das fronteiras nacionais e bem depois das divisas internacionais, pra lá das bifurcações políticas e econômicas que nos separam, em outros cardumes culturais de terras d’além-mar, dizem que é por lá que o mundo acontece.

E vem acontecendo não de hoje nem de ontem. Mas de anteontem. Pois se desenrola há muito na história da civilização humana através de hábitos e tradições manifestados tanto em praças europeias quanto em templos tibetanos no coração da Ásia.

Lá, onde o mundo acontece, entre asfalto serpenteando torres de vidro e outdoors eletrônicos anunciando Coca-Cola, respira-se poluição e partículas de instantâneas novidades em forma de perfumes caros, cardápios chiques, arte contemporânea e modernidade.

Porque dizem que é nestas lotações urbanas que conceitos são definidos, modas são disseminadas, tendências de comportamento são difundidas, simultaneamente, pelas avenidas de Londres, edifícios de Tóquio e galerias de Nova York. De lá pra cá o futuro é exposto em vitrines virtuais, onde grifes, discos e cultura de massa em geral são importados via satélite por nós, consumidores em potencial dos confins da América do Sul.

Continua após a publicidade...

Dizem que o mundo acontece primeiro pelas ruas dessas metrópoles megalópoles. Um mundo idealizado e formatado por artistas cults, estilistas com cavanhaque e filmes de Hollywood, perseguidos dia e noite por legiões usando sapatos finos, penteados descolados, roupas hipsters e ouvindo a música em voga enquanto peregrinam em carros de luxo.

Só após o decorrer de uma estação inteira é que nos chegam já velhas as novidades. E como aqui não há neve nem tradição do jazz, incorporamos a cultura de outrem à nossa atmosfera tropical e ao nosso samba tupiniquim – não copiamos, mas reinventamos o que é globalizado.

É por isso que, quando caminho entre pastagens e trilhas de cachoeiras ouvindo randomicamente Radiohead e Jorge Ben no meu MP3, sempre tenho a sensação de que o mundo além das cordilheiras que cercam cada vez mais Espera Feliz para dentro de Minas está acontecendo a todo o momento. E eu, com um olhar matuto de homem do campo, faço parte de uma espécie de plateia, que assiste a tudo de longe pelo display do smartphone ou por um monitor conectado à internet, ouvindo falar de bares e museus que talvez jamais conheça.

Mas nas estradinhas de terra batida, nas pontes de madeira sobre córregos rurais, no mastigar dos bois que, indiferentes, pastam na colina, é que percebo que aqui, embora cartograficamente distante, também faço (fazemos) parte do movimento da história. Porque o mundo, em qualquer canto, não para de acontecer.

Não importa se à luz de neon dum pub irlandês ou no balcão do botequim do Paulo Simiqueli.

Sobre Farley Rocha

Farley Rocha é professor, fã do Radiohead e do Seu Madruga. Já plantou uma árvore, escreveu um livro e edita o blog http://palavraleste.blogspot.com


  • Plano Assistencial Familiar Vida

    Rua João Alves de Barros, 277
    Centro - Espera Feliz - MG

    (32)3746-1431

    Plantões
    (32) 98414-4438 / (32) 98414-4440

Clique aqui e veja mais