Farley Rocha

Este é um artigo ou crônica pessoal de Farley Rocha.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.

Aos 32 anos

"Eu sou apenas um rapaz latino-americano e vindo do interior." (Belchior)

Publicado em 11/09/2014 - 10:54    |    Última atualização: 11/09/2014 - 11:59
 

Acredito que é aos 32 anos que sentimos mais clara a lucidez do tempo, quando já não se é nem tão moço pra ser chamado de menino nem tão velho pra ser tratado de senhor.

E daqui divago, a quem interessar possa:

Aos 32 anos já se percebe que não mais convém discursos Marxistas nem Che Guevara’s estampados na camiseta. Que saudades de um Woodstock que nunca vivemos na verdade são lembranças coletivas de um mundo que não existe mais. Que ser astronauta, cientista, jogador de futebol e um astro de rock, tudo ao mesmo tempo, são sonhos tão possíveis quanto irrealizáveis, porque a vida é prática e perde o bonde quem dorme no ponto – como diriam os anciãos, que um dia também tiveram 32 anos.

Aos 32 anos já se teve tempo de conhecer substâncias diversas ou de não deixar-se envolver com nenhuma delas. Já se teve tempo de aprender a fumar, mas também de já ter largado o vício. De comparar porres espetaculares aos 16 com ressacas tão retumbantes sentidas pelo organismo que se tem hoje, aos 32.

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Aos 32 anos já se definiu vocação profissional ou é capaz de aceitar com gosto o que faz, sabido de que o projeto da vida nem sempre é como o desenhamos. Já se teve tempo de ganhar dinheiro e mais tempo ainda para gastá-lo – assim como saúde, quando jovem se pensa que dinheiro é imortal.

Aos 32 anos já se descobriu a pessoa que é e simplesmente se aceita, não por ter superado as incertezas e inseguranças da juventude, mas por melhor saber lidar com todas elas e consigo mesmo – dizem que “maturidade” é isso.

Aos 32 anos já amou e já foi o mundo de alguém. Mas também já se decepcionou e já ruiu o chão de quem confiava em ti. Contudo, esta idade permite risadas de mesmo tom ao se lembrar tanto das coisas boas quanto das eventuais desgraças. Também é possível ficar sério sem aparentar estar triste, quando soma e subtrai seus erros e acertos.

Aos 32 anos já se teve tempo de vivenciar divórcios e casamentos. De brigar com amigos e passar a amar ex-inimigos. De ter tido entre um a dez filhos ou de ainda se sentir na condição de filho. De se perder pai, mãe ou irmãos e de se ganhar sobrinhos, primos e até netos. De aprender que na vida o que vale é o carinho que temos pelos outros, assim como o que nos restou dos bons amigos que já se foram antes mesmo de completarem 32 anos.

Aos 32 anos se teve tempo de sacar o destino. Entender que ele é, ao mesmo tempo, árbitro e trapaceiro das próprias regras. Mas, como jogador, você já conhece alguns de seus dribles e sabe que o blefe também faz parte da jogada. E vai vivendo como quem joga, ganhando e perdendo porque assim é a vida.

Aos 32 anos já se vê remoto da própria infância, mas pode decidir-se continuar a ver o mundo com espanto ou com tédio – é quando uns viram poetas, e outros tornam-se adultos.

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Mas o melhor de se fazer 32 anos é descobrir que, apesar de tudo, a vida é sempre começo, assim como deve ser para quem chega aos 64 ou aos 96 anos de idade.

Porque o tempo é só uma escala. Um artifício para medir nossa existência. Nada mais.

***

P.S.: presentes nesta data serão muito bem-vindos.

Sobre Farley Rocha

Farley Rocha é professor, fã do Radiohead e do Seu Madruga. Já plantou uma árvore, escreveu um livro e edita o blog http://palavraleste.blogspot.com


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