Farley Rocha

Este é um artigo ou crônica pessoal de Farley Rocha.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.

A vila

  para Paulo Faria  (Embora também seja, não trata-se de um sonho, devaneio ou conto do absurdo) Ando por uma rua erma e estreita, quase uma ruela. Por algum motivo que desconheço, só consigo ver o seu lado direito, aonde caminho margeando paredes escuras e sem janelas – dou conta de que não sei onde […]

Publicado em 01/12/2012 - 09:58    |    Última atualização: 02/04/2014 - 12:19
 

 

para Paulo Faria

 (Embora também seja, não trata-se de um sonho, devaneio ou conto do absurdo)

Ando por uma rua erma e estreita, quase uma ruela. Por algum motivo que desconheço, só consigo ver o seu lado direito, aonde caminho margeando paredes escuras e sem janelas – dou conta de que não sei onde estou.

Antes que comece a me preocupar, encontro um automóvel do século passado, uma espécie de Brasília branca estacionada num canto. Mas não há motorista nem chave. Ao lado, percebo uma passagem no muro dando acesso a um local onde vejo casas. Na expectativa de encontrar alguém, adentro a apertada porta.

Sigo em passos lentos estudando o ambiente com a cabeça. Passo por um pequeno beco e chego no pátio do que parece ser uma vila. O piso é feito de linhas irregulares desenhadas sobre o cimento úmido. Mas por ali, ainda continuo só.

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À esquerda, uma escada de corrimão de ferro leva ao segundo andar de um conjugado.  Abaixo dela, vejo dois tanques de roupa e baldes vazios espalhados perto deles. Ao redor do cortiço, há vasos de plantas, esquisitos botijões de gás e uma gaiola sem pássaro dependurada no prego em uma das paredes. Todas as casas estão trancadas e silenciosas. Decido ir bater numa das portas.

Despercebido, tropeço num triciclo abandonado no meio do pátio e caio, esborrachando-me no chão. Nisso, ouço ruídos como se batessem em latas e só depois de um tempo percebo que são estranhas gargalhadas vindas aos montes não sei de onde – zombando do meu tombo.

É quando vejo se aproximar um senhor alto e magricela, quase uma caricatura andante com espesso bigode e chapéu de pano na cabeça. Traga um cigarro e vem esbravejando injúrias com os braços.

Antes mesmo de me levantar, pergunto-o “que lugar é este?”

E ele, mal-humorado, resmunga “pergunte praquele menino, ora bolas!”

“Mas que menino?”

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“Que menino… que menino… aquele que acabou de entrar no barril.”

E na hora tudo se esclarece. O senhor de bigode com quem converso é o Seu Madruga.

 

* * *

Farley Rocha, fã do Radiohead e do Seu Madruga, nasceu em 1982 e mora na cidade de Espera Feliz,

Sobre Farley Rocha

Farley Rocha é professor, fã do Radiohead e do Seu Madruga. Já plantou uma árvore, escreveu um livro e edita o blog http://palavraleste.blogspot.com


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