Este é um artigo ou crônica pessoal de Enrique Natalino.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.
Durante seu breve período como Governador de Minas, antes de renunciar ao do Palácio da Liberdade para se candidatar à presidência da República pela via indireta, Tancredo Neves fez uma visita à cidade de Alto Caparaó, na Serra do Caparaó, Zona da Mata. O ilustre visitante hospedou-se no recém inaugurado Caparaó Parque Hotel, charmoso empreendimento aos pés da cordilheira, com vista para a face de Cristo, monumento natural da região. Naquela época, o acesso à portaria mineira do Parque Nacional se dava apenas por estradas de difícil acesso, sem asfaltamento, fato que não inibiu a coragem e a visão do empresário Ronaldo Gripp, de família de Espera Feliz, a construir, no longínquo ano de 1979, um dos melhores hotéis de montanha naquela região. As paisagens que o ex-presidente Tancredo Neves visitou, trinta anos atrás, ainda são as mesmas, mas a região do Entorno da Serra, hoje reconhecida como um dos melhores locais de prática de ecoturismo no Brasil, evoluiu bastante desde então.
A colonização da região da Serra do Caparaó foi impulsionada com a vinda de uma expedição de engenheiros em 1859 e a colocação de uma bandeira, a mando de D. Pedro II, no ponto mais elevado do Império. A região foi beneficiada com a expansão do ciclo cafeeiro e pela construção da Estrada de Ferro Leopoldina, que a conectou ao Rio de Janeiro, facilitando o escoamento da produção agrícola e trazendo imigrantes. A agricultura familiar e os terrenos acidentados, se por um lado mantiveram a produtividade baixa, por outro geraram uma reforma agrária natural, com o aparecimento de pequenas propriedades familiares, favorecendo uma melhor distribuição de renda, sem grandes desigualdades.
Até meados do século XX, o acidente geográfico da Serra do Caparaó, um dos maiores desníveis de altitude do Brasil, dificultava o esforço de expansão econômica dos Municípios da região. A criação do Parque Nacional do Caparaó, em 1961, com apoio do ex-presidente Jânio Quadros, que esteve na região durante sua campanha à presidência, foi um divisor de águas. A área de proteção da Mata Atlântica, na divisa dos Estados de Minas e Espírito Santo, tornou-se ainda um foco guerrilheiro contra o regime militar, rapidamente debelado. A concentração de altitudes de quase 3000 metros, clima temperado, povo receptivo, fauna e flora diversificas, antigas fazendas, plantações cafeeiras, estradas idílicas, fartas pastagens e cidades estruturadas fazem da Serra um dos destinos turísticos de maior potencial de atração do país.
O Governo de Minas tem sido um parceiro fundamental da região e dos municípios do Entorno. Nessa linha, importantes investimentos públicos, como a construção da Estrada-Parque Espera Feliz-Paraíso, ajudaram a alavancar a infraestrutura e a abrir novas perspectivas para o escoamento da produção agrícola, o aumento do turismo e a melhoria do bem-estar dos moradores da comunidade do Entorno. Recentemente, foram anunciados a construção da nova Estrada-Parque entre o Distrito do Paraíso e Caparaó, interligando os dois lados da Serra, e a instalação de uma futura antena de telefonia celular em São José da Pedra Menina. Na mesma linha, foi lançado o guia do Circuito Turístico Pico da Bandeira, com informações bem selecionadas sobre o Parque Nacional e as cidades do Entorno da Serra, ricamente ilustrado e detalhado. Trata-se de uma iniciativa dos 17 municípios mineiros que compõem essa região do leste do Estado, com apoio da Secretaria de Turismo do Governo de Minas.
Tal realidade nos remete à necessidade de nos prepararmos para o fortalecimento dos Municípios do Entorno como realidade econômica, política, social, histórica e cultural, nos contextos mineiro, capixaba e nacional, o que exige a melhoria da gestão municipal e a seleção de representantes políticos em Belo Horizonte e Brasília comprometidos com um projeto mais amplo de desenvolvimento regional, integrado aos programas estaduais e nacionais e às melhores práticas de governança. A busca de uma inserção política, econômica, administrativa e turística cada vez maior da nossa região no mapa de Minas e do Brasil deve sempre avançar, transformando-a numa receptora de investimentos e empreendimentos inovadores, como hotéis, pousadas, restaurantes, cafés e fazendas.
Enrique Carlos Natalino é doutorando em Ciência Política na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestre em Administração Pública pela Escola de Governo da Fundação João Pinheiro. É graduado em Direito na Universidade de São Paulo (USP). É professor-colaborador do Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais da PUC-Minas. Foi pesquisador-visitante do German Institute of Global and Area Studies (GIGA), na Alemanha. Co-edita o blog de Política Internacional Fora da Cadência (www.foradacadencia.com).