Este é um artigo ou crônica pessoal de Enrique Natalino.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.
O Município de Espera Feliz sofreu o maior abalo de sua História nesses primeiros meses de 2020. Albert Einstein (1879-1955) disse certa vez que “a crise é a melhor benção que pode ocorrer com as pessoas e países, porque a crise traz progressos. A criatividade nasce da angústia, como o dia nasce da noite escura. É na crise que nascem as invenções, os descobrimentos e as grandes estratégias”.
Administrar em tempos de crises não é tarefa fácil. As crises trazem oportunidade de reflexão, de recomeço e de correção de rumos. Imaginem as dificuldades para uma cidade abalada por duas grandes crises em menos de dois meses: as enchentes de janeiro e a pandemia do novo coronavírus em março!
As enchentes de janeiro de 2020 destruíram ou danificaram grande parte da infraestrutura da área central do Município. A subida das águas dos dois rios que cortam a cidade transformou o centro de Espera Feliz em uma imensa caixa-d´água. Deixaram milhares de pessoas desabrigadas, com casas completamente submersas, e comerciantes com prejuízos milionários. Boa parte das ruas, avenidas, pontes e equipamentos públicos sofreram danos. Felizmente não houve perda de vidas. Os prejuízos foram incalculáveis. Foram semanas de contabilização de perdas materiais e de limpeza de destroços.
A segunda grande crise que atingiu em cheio em Espera Feliz foi a pandemia do novo coronavírus. Tal como as grandes ameaças que afetam a Humanidade desde os tempos bíblicos, a nova peste atinge não apenas o frágil organismo humano, mas o coração da nossa sociedade e de nossa economia. A nova ameaça é invisível e não pede licença para colocar em risco vidas humanas. Países ricos e poderosos como os Estados Unidos, o Reino Unido e a França sofrem o maior abalo humano e econômico desde a Segunda Guerra Mundial. No Brasil, já temos quase uma centena de milhares de infectados, milhares de mortos em função da COVID-19 e uma economia que viverá a maior recessão econômica em um século.
John Kennedy, ex-presidente dos Estados Unidos, dizia que “quando escrito em chinês a palavra crise compõe-se de dois caracteres: um representa perigo e o outro representa oportunidade”. Para que os momentos difíceis sejam aproveitados como oportunidades de melhoria e de crescimento, é preciso escolher caminhos racionais e prestigiar lideranças capazes de apontar caminhos seguros. Os Estados Unidos saíram da Grande Depressão sob a liderança do grande estadista Franklin Roosevelt (1882-1945). Em dez anos, haviam superado os tempos difíceis e se tornaram a maior potência política, econômica e militar do planeta.
Crises representam perigos, mas trazem oportunidades. As duas tragédias ocorridas em Espera Feliz nos fazem refletir acerca do futuro: como reconstruir uma cidade e impedir que ela retroceda? Não poderemos desviar a atenção dos problemas centrais e urgentes do Município: a crise fiscal, a recuperação da infraestrutura e a defesa da saúde. São muitos os desafios que se encontram pela frente. Com a crise econômica, teremos menos recursos em caixa para gastar.
Um bom administrador será aquele capaz de aproveitar os recursos existentes, alavancar bons projetos, cortar desperdícios, estancar sangrias nos cofres públicos, combater a corrupção, buscar parcerias e fazer mais com menos dinheiro. Deverá unir forças políticas, econômicas e sociais e os Poderes Públicos na grande tarefa de reconstrução do Município, definindo um futuro que valorize as suas potencialidades naturais e humanas: a cafeicultura, o agroturismo, o turismo de aventura, a agroindústria. E sempre com um olhar naquilo que transforma uma nação: educação, cultura, caráter e valores humanos.
Albert Einstein, talvez o maior gênio do século XX, novamente nos faz pensar sobre as janelas que as dificuldades abrem em nossas vidas: “Quem supera a crise, supera a si mesmo sem ficar ‘superado’. Quem atribui à crise seus fracassos e penúrias, violenta seu próprio talento e respeita mais os problemas do que as soluções. A verdadeira crise é a crise da incompetência… Sem crise não há desafios; sem desafios, a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crise não há mérito. É na crise que se aflora o melhor de cada um…”.
A tarefa de planejar o futuro de Espera Feliz para a próxima década exigirá união, trabalho, capacidade de gestão e visão democrática. O futuro de Espera Feliz dependerá, mais do que nunca, da escolha de lideranças experientes, capazes de colocar a sua retidão de caráter e a sua experiência administrativa à disposição da tarefa de governar com eficiência, honestidade, firmeza e generosidade. Serão tempos mais difíceis, exigindo ainda criatividade e trabalho dos administradores públicos. Não é tarefa para amadores, aproveitadores ou aventureiros.
“O trabalho é o esforço humano, que conduz à grandeza a nação”, diz o Hino de Espera Feliz, composto pelo poeta Juarez de Oliveira. Espera Feliz poderá sair rapidamente das duas crises porque tem algo de valor incalculável: o seu povo. Uma cidade com uma sociedade desunida e desorganizada já teria afundado há muito tempo no torvelinho do desespero, da descrença e da desolação. Não é o caso de Espera Feliz, graças à solidariedade, à união, à fé e à fibra moral dos esperafelicenses. Ao trabalho!
Por Enrique Carlos Natalino.
Enrique Carlos Natalino é doutorando em Ciência Política na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestre em Administração Pública pela Escola de Governo da Fundação João Pinheiro. É graduado em Direito na Universidade de São Paulo (USP). É professor-colaborador do Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais da PUC-Minas. Foi pesquisador-visitante do German Institute of Global and Area Studies (GIGA), na Alemanha. Co-edita o blog de Política Internacional Fora da Cadência (www.foradacadencia.com).