Este é um artigo ou crônica pessoal de Amanda Gerardel.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.
É isso o que sou, se algo me abala ou sai do meu controle, fecho as portas. Se tudo vai mal, mesmo que ao redor esteja bem, fecho as portas.
Não pulo janelas, não abro buracos, me recolho e nessa escuridão permaneço. Talvez seja mais cômodo, talvez seja somente o extinto de sobrevivência falando mais alto. É isso o que sou.
Não me lembro de ser diferente, não me lembro de ser ensinada, amada, compreendida. Lembro-me dos olhares de reprovação a cada ideia que parecia ser boa, me lembro das alegrias cortadas pela raiz, me lembro do choro, da dor. Isso me tornou o que sou.
Tentei sair disso por várias vezes, mas não sei pra onde ir, o que fazer, não aprendi a andar pelos meus próprios pés, tomo rasteiras sempre que tento me reerguer. Os que andam comigo não compreendem, “como pode ser tão frágil e ser derrubada por tão pouco?”. O pouco que me derruba não é o suficiente para isso, mas carrego pesos nas costas, pesos antigos que me desequilibram a cada passo que dou, e basta um empurrão, um sopro, eu caio. É isso que sou, mas não deveria.
Aprendi a esperar pelo pior, a desistir ao mínimo sinal e a esperar que os outros façam tudo por mim. Isso me levou até aqui, neste quarto escuro, sem janelas, trancada por dentro. Como sair daqui? Como não voltar? Não existe um salvador, não existe um apoio, sou somente eu e isso deveria me bastar.
Pego-me tentando com todas as forças me segurar em um feixe minúsculo de luz, essa luz vem de dentro, ainda é fraca, frágil, mas só tenho isso a me agarrar. Tento imaginar como seria se essa luz crescesse e aos poucos ela vai tomando forma, percebo que isso é bom. Imagino essa luz radiando sobre as paredes, chão, teto, e aos poucos isso vai acontecendo.
Essa luz torna-se fala, no começo apenas sussurros leves, algo como: ‘tudo bem se sentir assim’. Logo, essa luz penetra sob minha pele e invade meu ser. Cada parte de mim, repleta por luzes que brilham, uma onda de torpor me faz ser leve, o som está mais alto agora. “Tudo bem, aceite-se, conheça-se e siga”.
A escuridão não se agrada dessa luz, tenta de todas as formas me invadir, ela se estremece, porém, ao me ver vibrar. São tantas possibilidades agora, a luz invade meus ouvidos, suavemente me diz “abra a porta” e eu a obedeço, a porta se abre, um forte vento percorre meu corpo, tenho a sensação de estar em um furação, esse vento porém, lava minha alma como água da chuva, esfria minha pele e acalenta meus medos.
A escuridão está encostada em um cantinho no fundo do quarto, vou até ela, estendo-lhe a mão. Ela me olha com medo, medo é tudo o que já sentiu, eu a ofereço um lugar pequeno e fechado dentro de mim, ela aceita, como se não tivesse outra escolha. Eu a tranco lá, tenho a sensação de que essa escuridão ainda me visitará, mas meu cômodo já se ilumina de tal maneira e percebo que mesmo que queira, não há mais espaço para ela.
É isso que sou agora, alguém que ainda carrega aquela escuridão, mas que hoje sabe que ela não me controla, faz parte de mim, mas não é minha dona.
Saio para o mundo, vejo tanta possibilidade, tantas cores, tanto potencial. Olho para dentro de mim e pergunto a minha luz, “quem é você?” Ela responde, “sou tudo o que você pode ser, sou tudo o que deseja, sou seu potencial, sua força. Se me deixar, serei seu guia, não prometo que será fácil, mas prometo que te ajudarei a percorrer as barreiras da melhor forma possível”.
Sorrio, pela primeira vez. Sinto que posso, tudo dará certo e ao final dessa jornada, é isso que sou.
Por Amanda Gerardel.
Provavelmente a pessoa mais perdida e desequilibrada desse Portal. Seus textos refletem isso, não crie expectativas, apenas leia, reflita e aprecie o que a loucura pode gerar no fenômeno da escrita.
