Amanda Gerardel

Este é um artigo ou crônica pessoal de Amanda Gerardel.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.

As alegrias da maternidade

Percebi que as alegrias da maternidade, não são as fotos lindas de crianças comportadas a mesa, comendo verdura e dizendo “sim senhora” para tudo que você ordena.

Publicado em 03/01/2022 - 09:22    |    Última atualização: 03/01/2022 - 09:23
 

Eu tenho uma filha de quatro anos. Ela é bonita, esperta, saudável e autista.

Eu nunca quis ser mãe, a maternidade em minha vida foi uma fatalidade que descobri já no segundo trimestre da gravidez, foi um baque grande, demorei a acreditar que daqui em diante eu seria responsável por outra vida, já que nunca fui responsável nem por mim mesma.

Eu tinha vinte e dois anos na época, e até pouco tempo atrás eu achava que era mãe adolescente, meu marido que me acordou para a realidade e me fez perceber que eu já era adulta.

Quando estava com minha filha em meus braços, foi a primeira vez que me senti mãe realmente, e com isso veio o desespero. O que fazer com essa criaturinha tão pequena feinha e cheia de tiriça? Ela era tão franzina, tão delicada e estava cheia de bolinhas que mais tarde descobri que era por eu agasalhar de mais.

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E ela foi crescendo, eu fui me virando e fazendo o melhor que podia. Só que…

Ela não falava aos dois anos, não olhava nos meus olhos, gostava de rodar por horas sem ficar tonta e dava crises de se morder e machucar quem estivesse por perto, foi aí que veio o diagnóstico de autismo.

Quando eu tive o diagnóstico dela, por incrível que pareça, me veio o alívio. Eu sabia agora quem ela era, sabia que existiam terapias e livros que me diriam o que fazer e como fazer, eu estava salva.

Por um bom tempo foi tudo se encaminhando, mas aí chegou a crise dos quatro anos e com ela as vontades, as birras e tudo mais, só que em dobro, o autismo acentua todos os pontos de sua personalidade.

Me vi mais uma vez sem saber o que fazer. Aquelas frases clichês de maternidade não se encaixavam em minha vida, eu não estava dando conta de ser mãe, achava que não estava fazendo o suficiente e por isso iria criar mal minha filha. Tantos livros de maternidade, tantas palestras e cursos, tudo isso em vão.

Foi aí que percebi que não se tem fórmula pronta para ser mãe, que nossas mães fizeram o que podiam com o que tinham, e da mesma forma devemos fazer o melhor para que nossos filhos sejam boas pessoas e o mais importante, pessoas felizes.

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Percebi que as alegrias da maternidade, não são as fotos lindas de crianças comportadas a mesa, comendo verdura e dizendo “sim senhora” para tudo que você ordena.

A maior alegria, é lutar para que seu filho faça xixi no vaso e perceber que a luta deu resultados. É ver seu filho comendo o prato inteiro de arroz com ovo, mesmo sabendo que ainda não tem verdura em sua dieta, ele pelo menos não vomita mais ao ver comida.

É conseguir fazer com que seu filho durma uma noite toda em sua própria cama, apesar de você estar com o coração na mão, morrendo de medo que ele se sinta sozinho ou apavorado dormindo só.

É ver seu filho falar uma frase inteira sem ecolalia, ver ele conseguir brincar com os amiguinhos e aprender a ler e escrever com apenas quatro anos, sem ajuda de ninguém.

As alegrias da maternidade, que nenhum livro te conta, são esses pequenos momentos, que vêm logo após a exaustão, a vontade de desistir, a sensação de incapacidade. Os momentos em que percebemos que geramos outra vida e que não existe certo ou errado, apenas muitas e incansáveis tentativas de criarmos pessoas fortes, bondosas e felizes.

Por Amanda Gerardel.

Sobre Amanda Gerardel

Provavelmente a pessoa mais perdida e desequilibrada desse Portal. Seus textos refletem isso, não crie expectativas, apenas leia, reflita e aprecie o que a loucura pode gerar no fenômeno da escrita.


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