Este é um artigo ou crônica pessoal de Amanda Gerardel.
Não se trata de uma reportagem ou opinião do Portal Espera Feliz.
Eu tenho uma filha de quatro anos. Ela é bonita, esperta, saudável e autista.
Eu nunca quis ser mãe, a maternidade em minha vida foi uma fatalidade que descobri já no segundo trimestre da gravidez, foi um baque grande, demorei a acreditar que daqui em diante eu seria responsável por outra vida, já que nunca fui responsável nem por mim mesma.
Eu tinha vinte e dois anos na época, e até pouco tempo atrás eu achava que era mãe adolescente, meu marido que me acordou para a realidade e me fez perceber que eu já era adulta.
Quando estava com minha filha em meus braços, foi a primeira vez que me senti mãe realmente, e com isso veio o desespero. O que fazer com essa criaturinha tão pequena feinha e cheia de tiriça? Ela era tão franzina, tão delicada e estava cheia de bolinhas que mais tarde descobri que era por eu agasalhar de mais.
E ela foi crescendo, eu fui me virando e fazendo o melhor que podia. Só que…
Ela não falava aos dois anos, não olhava nos meus olhos, gostava de rodar por horas sem ficar tonta e dava crises de se morder e machucar quem estivesse por perto, foi aí que veio o diagnóstico de autismo.
Quando eu tive o diagnóstico dela, por incrível que pareça, me veio o alívio. Eu sabia agora quem ela era, sabia que existiam terapias e livros que me diriam o que fazer e como fazer, eu estava salva.
Por um bom tempo foi tudo se encaminhando, mas aí chegou a crise dos quatro anos e com ela as vontades, as birras e tudo mais, só que em dobro, o autismo acentua todos os pontos de sua personalidade.
Me vi mais uma vez sem saber o que fazer. Aquelas frases clichês de maternidade não se encaixavam em minha vida, eu não estava dando conta de ser mãe, achava que não estava fazendo o suficiente e por isso iria criar mal minha filha. Tantos livros de maternidade, tantas palestras e cursos, tudo isso em vão.
Foi aí que percebi que não se tem fórmula pronta para ser mãe, que nossas mães fizeram o que podiam com o que tinham, e da mesma forma devemos fazer o melhor para que nossos filhos sejam boas pessoas e o mais importante, pessoas felizes.
Percebi que as alegrias da maternidade, não são as fotos lindas de crianças comportadas a mesa, comendo verdura e dizendo “sim senhora” para tudo que você ordena.
A maior alegria, é lutar para que seu filho faça xixi no vaso e perceber que a luta deu resultados. É ver seu filho comendo o prato inteiro de arroz com ovo, mesmo sabendo que ainda não tem verdura em sua dieta, ele pelo menos não vomita mais ao ver comida.
É conseguir fazer com que seu filho durma uma noite toda em sua própria cama, apesar de você estar com o coração na mão, morrendo de medo que ele se sinta sozinho ou apavorado dormindo só.
É ver seu filho falar uma frase inteira sem ecolalia, ver ele conseguir brincar com os amiguinhos e aprender a ler e escrever com apenas quatro anos, sem ajuda de ninguém.
As alegrias da maternidade, que nenhum livro te conta, são esses pequenos momentos, que vêm logo após a exaustão, a vontade de desistir, a sensação de incapacidade. Os momentos em que percebemos que geramos outra vida e que não existe certo ou errado, apenas muitas e incansáveis tentativas de criarmos pessoas fortes, bondosas e felizes.
Por Amanda Gerardel.
Provavelmente a pessoa mais perdida e desequilibrada desse Portal. Seus textos refletem isso, não crie expectativas, apenas leia, reflita e aprecie o que a loucura pode gerar no fenômeno da escrita.