Nely Carlos Gripp

Texto escrito por Juarez de Oliveira.

Publicado em 26/09/2019 - 10:56    |    Última atualização: 26/09/2019 - 10:56
 

Ausenta-se o corpo. Sobrevivem suas ações. Aquele que parte agora não foi o seu melhor cuidador. Deixou que seu corpo se fragmentasse sofrendo os destemperos provocados por condições impostas pela vida. Não projetou suas andanças. Entregou-se ao tempo, sem dele cobrar maiores proveitos. Mas cresceu. Agigantou-se. Mostrou-se, embora entregue ao universo da humildade. Crescemos correndo juntos. Infância de felicidade plena. Mãe entregue ao trabalho pesado. Água corrente no quintal. Sabão pintado entregue à esfregação. Roupa limpa nos varais. Sol forte para secagem rápida e liberação dos varais. Muitas as roupas no aguardo do seu tempo. O pai entregue ao trabalho roceiro. Pescador nas grandes cheias do Rio São João. Os filhos levados à escola. Tempo poético na composição das lembranças. São muitas as lembranças. Repousam inteiras em nossas mentes. Seguem embaladas pelo coração. Ele, o meu amigo, talvez o filho mais filho. Acredito que sim. Curta convivência com seus irmãos. Nenhuma conversa mais extensa com seus pais. Timidez mineira posta em corpo ainda muito jovem. O avô, caçador. Armas e cães cortando as nossas poucas ruas. Ausência total de qualquer conquista. Casa bonita dos avós. Acesso por terra. Estrada curta. Paralela à estrada entregue ao trânsito dos que viajam em busca do Estado do Espírito Santo. No curto caminho, a casa dos pais de Reminho, o homem de sangue azul sob as unhas. Sindoca é o pai. Homem operário do campo. Filhos em Espera Feliz. Filhos na cidade do Rio de Janeiro. Não sei se Roberto ou Renato, mas lá estava o conterrâneo numa das farmácias instaladas na nobreza das Laranjeiras, junto às Águas Férreas, muito próxima da casa de Machado de Assis, um dos nossos mais ilustres escritores, membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Além da casa de Sindoca, colocada à esquerda de quem se dirige à casa da família do Sr. Roque Ferreira de Castro, já do lado direito, a árvore das orações para onde fui levado pelas mãos caridosas de Maria, filha da lavadeira Dona Justina, irmã da sorridente Amélia e de Antônio, amigo que correu ao lado dos meus irmãos Geraldo e Guilherme na cidade de São Paulo. Maria é religiosa. A esposa de Erênio, mãe dos nossos amigos José, o festejado Zé Cueca, e Paulinho, jogador brilhante no futuro da equipe do Santa Luzia. O milagre é feito. Estou curado. Após a seringueira a casa do Sr. João, talvez João do Roque.

Quem nos deixou? Quem acabou de cravar em nossos corações a imensa saudade e a lembrança que carregaremos eternamente em nossos corações?

Partiu o amigo Nely Carlos Gripp. Foi o nome que guardamos. Foi nosso colega nas aulas do Grupo Escolar Interventor Júlio de Carvalho onde ganhou o apelido de 21. Teria ele comido 21 bananas durante o recreio. Não tenho como dizer verdadeira a informação. Nely era amigo. Companheiro de caça aos melros. Caminhantes que fomos pelos quintais do Sr. Jacy Castro. Nely viajou antes desta sua viagem de agora. São Paulo o acolheu. Montou banca de revista na Alameda Barros, na esquina da Rua Martim Francisco. Nas proximidades da casa do ilustre apresentador de TV Manoel de Nóbrega, criador da Praça da Alegria, entregue, posteriormente, ao filho Carlos Alberto. Fez ele incontáveis amigos. Estive algumas vezes ao seu lado. Falamos muito sobre a nossa meninice no nosso natal chão esperafelicense. Ambos muito saudosos. Viajamos juntos. Comprou um Symca, veículo usado. Não tinha recurso para comprar coisa melhor. Não tinha habilitação para dirigir. Mas viajamos com destino à nossa terra natal. Na direção, um policial, seu grande amigo. Não me lembro o nome de quem assumiu a direção daquele veículo em precário estado de conservação. Viagem longa. Já em solo mineiro, no caminho que conduz à Bahia, parada obrigatória. O veículo cobra reparo. Tempo longo de espera. No final virá a grande recompensa. Pisaremos nosso chão natal. Estaremos ao lado dos nossos amigos. Abraçaremos carinhosamente nossos familiares. Chegamos. Não importa o tempo gasto. O importante é que chegamos!

Novamente juntos. Nely investe numa pensão colocada na Rua Amaral Gurgel, centro do chão paulistano, hoje rua acobertada pela extensão do elevado Costa e Silva, atual João Goulart, mas conhecido, ainda, por Minhocão. Quer ele saber onde estou morando. Pago aluguel. Ele abre as portas de sua pensão. Quer a minha presença ao seu lado. Sem custo para quem com baixíssima renda. Eu me acomodo em seu espaço comercial. Meu tempo de estada é curto. Tempo de felicidade plena. Ao lado do amigo, moço simples, de enorme generosidade.

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Após, curtos encontros. Nely retorna ao chão natal. Acontece o seu casamento. Dizem ser sua esposa filha do nosso saudoso amigo Biló, senhor que esteve muito próximo do meu pai, amigos sempre. Visito Nely. Conheço a esposa e o filho. Cuida ele do seu amplo quintal. Legumes e verduras são produzidos. A casa dos pais já não está de pé. Ocupava o mesmo terreno, agora dividido entre os filhos.

Visito o amigo. Levo, comigo, meu irmão Juadir. Visita rápida. Abraço apertado no amigo. Conversa amena. Despedimo-nos. Não sem antes fotografarmos aquele nosso encontro. Último encontro. Ficaram as fotos. Guardo-as como lembrança de um tempo em que gozávamos de felicidade plena em nosso chão esperafelicense.

Deus sabe da vida do amigo Nely. De sua vida inteira. De tudo o que ele fez. Resta a certeza de que Deus o acolherá em seu reino. Ele fez por merecer!

Por Juarez de Oliveira.


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